O JARDIM E O DESERTO RUGENTE.
Por: Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Então,
o que poderia fazer Deus? Que mais poderia fazer, sendo Deus, exceto renovar
sua imagem na humanidade, de maneira que, por meio dela, o homem poderia chegar a conhecer-lhe
uma vez mais? E como poderia se fazer isso como não foi por meio da vinda da
própria imagem, nosso Salvador Jesus Cristo? Os homens não poderiam havê-lo
feito, pois, somente tem sido feito a sua imagem; tampouco, podiam havê-lo
feito os anjos, pois, não são imagens de Deus. A Palavra de Deus veio em sua
própria pessoa, pois, era somente Ele, a imagem do Pai, o que podei recriar ao
homem feito a sua imagem. Contudo, para recriar esta imagem, primeiro tinha que
destruir a morte e a corrupção. Por conseguinte, assumiu um corpo humano, para
que, nele, a morte pudesse ser destruída de uma vez por todas, e os homens
pudessem ser renovados segundo a sua imgem.
Atanásio,
On The Incarnation [13]
Quando Deus criou a Adão, lhe pôs na
terra, e lhe deu o domínio sobre ela.
A terra é básica para o domínio; por conseguinte, a salvação involucra uma
restauração da terra e propriedade. Ao anunciar seu pacto a Abraão, a primeira
frase que Deus pronunciou foi uma promessa de terra (Gênesis 12.1) e cumpriu
essa promessa completamente ao salvar a Israel (Josué 21.43-45). Por isso, as
leis bíblicas estão cheias de referências a propriedade, as leis, e a economia;
e é por isso que a Reforma deu tanta ênfase neste
mundo, como também no mundo vindouro. O homem não é salvo livrando-o do que
está ao seu redor. A salvação não nos resgata do mundo material, mas do pecado, e dos efeitos da maldição. O
ideal bíblico é que cada homem tenha propriedade – um lugar onde possa ter
domínio e governo sob Deus.
As bênçãos do mundo ocidental têm
ocorrido por causa do cristianismo e a liberdade resultante disto que os homens
tem conseguido no uso e o
desenvolvimento da propriedade, bem como o cumprimento de seus chamados sob o
mandato do domínio de Deus. O capitalismo
- o mercado livre – é produto de leis bíblicas, nas quais se lhe atribuí
uma alta propriedade a propriedade privada, e condenam toda classe de roubos
(incluindo o roubo por parte do Estado).
Para os incrédulos economistas,
professores, e funcionários, é um mistério porque o capitalismo não pode ser
exportado. Considerando a obvia e provada superioridade do mercado livre em
relação ao elevar o nível de vida de todas as classes sociais. Por que as
nações pagãs não implementam o capitalismo em suas estruturas sociais? A razão
é esta: A liberdade não pode ser
exportada para uma nação que não tem mercado para o evangelho. As bênçãos
do jardim não podem ser obtidas aparte de Jesus Cristo. A regra de ouro, que
resume a Lei e os Profetas (Mateus 7.12) é o fundamento ético inescapável do
mercado livre; e esta ética é impossível sem o Espírito
Santo, que nos capacita a cumprir as justas exigências da lei de Deus (Romanos
8.4).
Todas as culturas pagãs tem sido
estaditas e tirânicas, porque um povo que rejeita a Deus se apresentará e
submeterá suas propriedades a um ditador. (1º Samuel 8.7-20). Os homens ímpios
querem as bênçãos do jardim, porém tratam de possuí-las por meios ilícitos,
como fez Acabe com a vinha de Nabote
(1º Reis 21.1-16), e o resultado é, como sempre, destruição (1º Reis 21.17-24).
A posse legítima e livre da terra é o resultado da salvação: Deus levou seu
povo a uma terra, e a dividiu entre eles como herança (Números 26.52-56); e
como havia feito no Éden, Deus regulou a terra (Levítico 25.4) e as árvores
(Levítico 19.23-25; Deuteronômio 20.19-20).
Como temos visto, quando Deus
expulsou a Adão e a Eva de sua terra, o mundo começou a converter-se em um
deserto (Gênesis 3.17-19). Desde este ponto, a Bíblia começa a desenvolver um
tema da terra versus o deserto, no
qual o povo de Deus, obediente e redimido, e se vê herdando uma terra que é segura e abundante, enquanto
que aos desobedientes são amaldiçoados ao ser expulsos para um deserto. Quando Caim foi julgado por Deus, se lamentou: “Ele
aqui me lança hoje da terra, e de tua presença me esconderei, e serei errante e
estrangeiro na terra” (Gênesis 4.14). E tinha razão, como o registra a
Escritura: “Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node,
ao oriente do Éden.” (Gênesis 4.16). Node
significa errante: Caim foi o
primeiro nômade, que vagava sem encontrar nenhum destino.
De maneira similar, quando o mundo
inteiro se tornou ímpio, Deus disse: “Farei desaparecer da face da terra o
homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo
de os haver feito.” (Gênesis 6.7), e assim o fez, por meio do dilúvio –
deixando vivos somente a Noé e a sua família na arca (que Deus fez repousar,
diga-se de passagem, sobre uma montanha;
Gênesis 8.4). Os ímpios foram lançados na terra, e o povo do pacto a repovoou.
Novamente, os ímpios trataram de
construir seu próprio “jardim”, a torre de Babel. Tratavam de fazer-se um nome
– Se definir em termos de seus
próprios modelos de rebeldia – e evitar ser espalhados
da terra (Gênesis. 11.4). Porém o homem não pode construir o jardim sob
suas próprias condições. Deus é o Definidor, e Ele é o único que nos pode dar
segurança. A própria intenção do povo de Babel para evitar sua destruição na a
realidade a precipitou. Deus confundiu as suas línguas – não lhes serviram para
“nomear” nada! – e os espalhou da terra (Gênesis
11.8-9).
Em flagrante contraste, o capítulo
seguinte registra o pacto de Deus com Abrão, no qual Deus promete levar Abrão a
uma terra, e engrandecer seu nome
(Gênesis 12.1-2). Como garantia adicional e lembrança de seu pacto, Deus até mudou o nome de Abrão para Abraão, em
termos de chamado predestinado. Deus é
nosso definidor, somente Ele nos dá nosso nome, e “chama as coisas que não
são, como se fossem”(Romanos 4.17). Por isso, ao ser batizados no nome de Deus
(Mateus 28.19), somos redefinidos
como o povo vivente de Deus, livres em Cristo desde nossa morte em Adão
(Romanos 5.12-6.1-23). A circuncisão desempenhava a mesma função no Antigo
Testamento, que é a razão pela qual as criancinhas recebiam oficialmente seu
nome quando eram circuncidados (Consultar Lucas 2.21). Na salvação, Deus nos
trazer de volta ao Éden e nos dá um novo
nome (Apocalipse 2.17; consultar Isaías 65.13-25).
Quando o povo de Deus se voltou
desobediente quando estava a ponto de entrar na Terra Prometida, Deus lhe
castigou fazendo que vagasse pelo deserto até a geração inteira dos desobedientes desparecesse
(Números 14.26-35). Logo, Deus se voltou e salvou a seu povo da “rugente
solidão do ermo ” (Deuteronômio 32.10), e lhes levou a uma terra da qual fluía
leite e mel (outra sutil recordação do Éden, diga-se de passagem: o leite é uma
forma mais nutritiva da água, e o mel procede das árvores). O povo obediente de Deus nunca tem sido nômade. Ao
contrário, é notável por sua estabilidade, e tem domínio. É verdade que a
Bíblia chama-nos de peregrinos
(Hebreus 11.13; 1 Pedro 2.11), porém, disso se trata precisamente: somo peregrinos, não vagabundos. Um peregrino tem um lugar,
um destino. Na redenção, Deus nos salva de sermos errantes, e nos recolhe em
uma terra (Salmos 107.1-9). Um povo disperso e sem teto não pode ter domínio.
Quando os puritanos abandonaram a Inglaterra, não vagaram pela terra; Deus lhes
levou a uma terra e lhes converteu em governantes e, ainda que o fundamento que
construíram se tem corroído de grande forma, todavia está conosco uma grande
parte conosco depois de uns 300 anos. ( o que vão dizer as pessoas daqui a 300
anos das conquistas do evangelismo atual, superficial e que bate em retirada?)
As pessoas se tornam nômades por
causa da desobediência (Deuteronômio 28.65). Ao funcionar a maldição na
história, ao apostatar a civilização, o nomadismo se estende, e o deserto
aumenta. E, ao estender-se a maldição, a
água seca-se. Desde a queda, a terra já não é regada principalmente por
mananciais. Em vez disto, Deus nos envia chuva (a chuva é muito mais fácil de
abrir e fechar em um instante do que os mananciais e os rios). A retenção da
água – o que converte a terra em um deserto ressecado – está relacionada mui
estreitamente com a maldição (Deuteronômio 29.22-28). A maldição se descreve
também em termos de que o povo desobediente é desarraigado da terra (Deuteronômio 29.28), em contraste com o fato
de que Deus estabelece a seu povo na
terra (Êxodo 15.7). Deus destrói as raízes de uma terra e cortando o suprimento
de água: a seca é considerada na Escritura como instrumento principal (e
efetivo) para o castigo nacional. Quando Deus fecha o suprimento de água,
converte a terra em algo completamente oposto ao Éden.
A História de Sodoma e Gomorra é uma
espécie de história encapsulada do mundo neste sentido. Descrita uma vez como o
jardim do Éden em sua beleza e abundância (Gênesis 13.10), se converteu, por
meio do juízo de Deus, em “um hermo abrasado, de enxofre e sal, onde nada plantava-se,
nada brotava, e não crescia nenhuma
vegetação” (Deuteronômio 29.23). Sodoma e Gomorra estavam situadas na área que
agora se conhece como o Mar Morto – e se chama morto por uma boa razão: nada pode viver ali. Os depósitos
químicos (sal, potássio, magnésio, e outros) constituem 25% da água como
resultado do juízo de Deus sobre a terra. Exceto onde a água flui até ela (e uns poucos mananciais
isolados na área), a terra é completamente árida. É agora o mais distante possível do Éden, e serve
como representação do mundo depois da maldição: o Éden se acha convertido em
deserto.
Porém, isso não é tudo o que se nos diz sobre esta
área. Na visão de Ezequiel do templo restaurado (também sobre um monte,
Ezequiel 40.2), ele vê a água da vida fluindo até o oriente desde o umbral até
o Mar Morto e curando suas águas, resultando em “uma grande multidão de peixes”
e exuberante vegetação (Ezequiel 47.8-12). Não devemos olhar o mundo com olhos
que só veem maldição; devemos ver com os olhos da fé, iluminados pela Palavra
de Deus para ver o mundo como arena de seu triunfo. A história não termina com
o deserto. A grande escala, a história mundial será a de Sodoma: primeiro um
jardim, formoso e frutífero; logo depois, corrompido até converter-se em um
deserto de morte por meio do pecado; finalmente, restaurado a sua primitiva
abundância edênica. “O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e
florescerá como o narciso.” (Isaías 35.1 ARA).
Os
aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de
sede; mas eu, o SENHOR, os ouvirei, eu, o Deus de Israel, não os desampararei. Abrirei
rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em
açudes de águas e a terra seca, em mananciais. Plantarei no deserto o cedro, a
acácia, a murta e a oliveira; conjuntamente, porei no ermo o cipreste, o
olmeiro e o buxo, para que todos vejam e saibam, considerem e juntamente
entendam que a mão do SENHOR fez isso, e o Santo de Israel o criou.
(Isaías 41.17-20 ARA)
Esta, pois, é a direção da história,
no que pode chamar-se o “primeiro rapto”
– Deus desarraiga gradualmente da terra aos incrédulos e as culturas
incrédulas, e leva a seu povo à plena herança da terra.
No entanto, não estou negando o
ensino bíblico de que o povo de Deus algum dia se encontrará com o Senhor no ar
em ocasião de seu regresso (1ª Tessalonicenses 4.17); Mas a moderna doutrina do
rapto[1]
é muitas vezes uma doutrina de fuga do
mundo, na que os cristãos se lhes ensina a anelar a fuga do mundo e seus
problemas, mas bem que anelar o que a Palavra de Deus nos promete: Senhorio. Quão comum é ouvir dizer aos
cristãos quando enfrentam problemas: “Espero que o arrebatamento ocorra logo!”.
Ainda pior é a resposta que é também demasiado comum: A quem lhe importa? Não
temos que fazer nada, porque, de todos os modos, o arrebatamento vem rapidamente!”.
A pior de todas as atitudes de alguns de que todo trabalho para fazer deste um
mundo melhor é absolutamente errôneo porque “melhorar a situação irá demorar a
Segunda Vinda!.” Grande parte da moderna doutrina do rapto [arrebatamento]
deveria ser reconhecida pelo que é na realidade: um perigoso erro que está
ensinando ao povo de Deus a esperar a derrota em vez da vitória.
E certamente, é um ponto de vista
evangélico mundial é que “a terra é e sua plenitude são do diabo” – que o mundo pertence a Satanás, e que os cristãos só
podem esperar a derrota até que regresse o Senhor. E essa é exatamente a
mentira que Satanás quer que os cristãos creiam. Se o povo de Deus crer que o
diabo está ganhando, seu trabalho é muito
mais fácil. Que faria se os cristãos deixassem de retroceder e
começassem a avançar contra ele? Tiago 4.7 nos diz o que o diabo faria: fugiria
de nós! Assim que, por que não está o diabo fugindo de nós nesta época? Por que
estão os cristãos a mercê de Satanás e seus servos? Por que não estão os
cristãos conquistando reinos com o evangelho, como o fizeram nos tempos
passados? Porque os cristãos não estão
resistindo ao diabo! Pior ainda, seus pastores e seus líderes lhes estão dizendo não resistam, mas que
retrocedam! Os líderes cristãos tem colocado Tiago 4.17 ao reverso, e na realidade
estão ajudando e confortando ao inimigo
porque, de fato, estão dizendo ao diabo:
“Resiste a igreja, e fugiremos de ti!”. E Satanás está falando. Assim que,
quando os cristãos vem que estão perdendo terreno em todas as frentes, acabam
considerando isso como uma “prova” de que Deus tem prometido dar domínio a seu
povo. Porém a única coisa que isto prova é que Tiago 4.7 é verdade, depois de
tudo, incluindo o “lado contrário da moeda”, a saber, que se você não resiste ao diabo, ele não fugirá de você.
O que temos que lembrar é que Deus
não “arrebata” aos cristãos para escaparem do conflito – mas “arrebata” aos não
cristãos! De fato, o Senhor Jesus orou para que não fossemos
“arrebatados”: “Não peço que os tires do
mundo, e sim que os guardes do mal.” (João 17.15 ARA). E esta é a
constante mensagem da Escritura. O povo de Deus herdará todas as coisas, e os
ímpios serão deserdados e expulsados da terra. “Porque os retos habitarão a
terra, e os íntegros permanecerão nela. Mas os perversos serão eliminados da
terra, e os aleivosos serão dela desarraigados.” (Provérbios 2.21-22 ARA).
“O justo jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a terra.” (Provérbios. 10.30).
Deus descrevia a terra de Canaã dizendo que havia sido “contaminada” pelos
abomináveis pecados de sua população pagã, e que a terra mesma “vomitou seus
habitantes”; e advertiu a seu povo que não imitasse aquelas abominações pagãs,
“para que a terra não lhes vomite a vocês também” (Levítico 18.24-28; 20.22).
Usando a mesma linguagem edênica, o Senhor adverte a igreja de Laodicéia contra
o pecado, e a ameaça: “Te vomitarei de minha boca” (Apocalipse 3.16). Na
parábola do trigo (os piedosos) e as cinzas (os ímpios) – e observe as imagens
edênicas até na forma em que selecionas as ilustrações – Cristo declara que
recolherá primeiro as cinzas para ser
destruída; e o trigo é “arrebatado” mais tarde (Mateus 13.30).
“A
riqueza do pecador está guardada para o justo”(Provérbios. 13.22). Este é o
modelo básico da história ao salvar Deus a seu povo e dar-lhe domínio. Isto é o
que Deus fez com Israel: ao salvar-lhe, lhe levou a terras já colonizadas, e herdaram cidades que já haviam sido
construídas (Salmos 105.43-45). Em certo sentido, Deus abençoa a esses não
pagãos – somente para que possam trabalhar para sua própria condenação,
enquanto constroem uma herança para os piedosos (Consultar Gênesis 15.16; Êxodo
4.21; Josué 11.19-20) Então, Deus lhes faz em pedaços e dá a seu povo o fruto
do trabalho deles. Por isso, não é necessário que nos preocupemos pelo que
fazem o mal, porque nós herdaremos a
terra (Salmos 37). A palavra hebraica para salvação é yasha que significa trazer a um espaço
grande, amplo e aberto – e na salvação, Deus faz justamente isso: dá-nos o
mundo, e o converte no jardim do Éden.
[1] Nota do
Tradutor: Chilton aqui se refere àquela doutrina do arrebatamento secreto ensinada pelo sistema distpensacionalista.