A TEOLOGIA DO PROFETA ISAÍAS.
Prof. Rev João Ricardo Ferreira de França*
Introdução:
Antes
de abordarmos qualquer questão sobre este livro precisamos fazer uma análise do
seu contexto histórico e cultural. Esta abordagem nos ajudará a perceber a
mensagem que está inserida neste livro.
A
vocação do profeta Isaías sempre é desafiadora para qualquer intérprete
bíblico. Aquele que se dedica ao estudo da Bíblia poderá perceber como é rico o
sexto capítulo para a aplicação teológica para nós; mas também, como é significativo
para o contexto imediato no qual este texto foi produzido. Isto é importante
termos em nossas mentes.
O livro que temos diante de nós possui uma característica
curiosa: ele tem sido visto como se
fosse um resumo de toda a Bíblia. Pois o seu tema é “A salvação é de Yahweh”.
Isaías registra alguns fatos a respeito de si mesmo. Ele é
filho de Amoz (1.1), que conforme a tradição histórica seria o irmão do rei
Amazias (2 Reis 14.1,2); se tal tradição possui peso, então, explica o porque o
profeta Isaías tinha livre acesso as cortes dos reis de Judá tais como Acaz
(Is.7.3) e Ezequias (37.21;39.3). Este profeta era casado, sua esposa era uma
profetisa (8.1); ele tinha dois filhos (7.3; 8.3); esses nomes dados aos seus
filhos eram simbólicos e proféticos. No capítulo 8.3 – Rápido –
Despojo-Presa-Segura – este nome do filho do profeta é uma promessa de que
viria o julgamento sobre o povo que se recusava a abandonar os seus pecados; no
capítulo 7.3 – Um – Resto-Volverá - fala
da esperança de que um remanescente regressará. Isaías profetizou por cerca de
740-680 a.C, ele proclamou a Palavra de Deus por aproximadamente sessenta anos
. Ele profetizou durante o período do reino dividido; e foi direcionado
especificamente para profetizar para o Judá urbano, sua vocação conforme é
relatada no capítulo 6 nos indica exatamente essa perspectiva.
O propósito de sua profecia é ensinar que a salvação é
manifestada pela Graça de Deus. Isto se incorpora no próprio nome deste profeta
que significa que a “salvação é de Yahweh”. Pois, a situação política de Judá não
era confortável onde nações inimigas estavam se levantando contra o povo
pactual, e os reis de Judá buscavam alianças com outras nações para se salvarem
dos mesmos, todavia, a profecia de Isaías vem com o propósito de mostrar aos
seus ouvintes que apenas em Deus se poderá encontrar real livramento.
A profecia de Isaías pode ser esboçada da seguinte forma:
1-
Oráculo de Julgamento
que compreende do capítulo 1 até o 39.
2-
Oráculo de Salvação
que compreende do capítulo 40 até o 66.
I - TEONTOLOGIA EM ISAÍAS.
(ISAÍAS 6)
O nosso processo hermenêutico e
exegético será o de extração direta do texto bíblico a teologia que o profeta
desenvolve no seu livro. Teologia? Será que Isaías tem teologia para oferecer a
Igreja do século XXI? A reposta deve ser a mais positiva possível. Vejamos.
O profeta começa nos informando
algo: “No ano da morte do rei Uzias” ele começa com uma nota
informativa. As vezes lemos o texto e não pensamos nos grandes dilemas
enfrentados por uma nação monárquica quando esta perde o seu rei. Devemos levar
isso em consideração, a morte de um Rei era sinal de que estavam vulneráveis.
Sabemos por
que Uzias morreu? O ministério de Isaías começou no ano da morte do rei Uzias
(Is 6.1). Uzias foi um dos bons reis de Israel (ele também é chamado de
Azarias). Ele reinou durante um longo período. Mas Uzias tornou-se orgulhoso.
E, no seu orgulho, ele entrou no templo para oferecer incenso no altar. Isso só
o sacerdote poderia fazer. Como resultado, Deus o feriu com lepra.
Assim,
ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser leproso,
numa casa separada, porque foi excluído da Casa do SENHOR; e Jotão, seu filho,
tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra. Quanto aos mais atos
de Uzias, tanto os primeiros como os últimos, o profeta Isaías, filho de Amoz,
os escreveu.(2 Cro 26.21-22).
Observe
que o historiador oficial do reinado de Uzias era ninguém menos que Isaías, o
filho de Amoz. A morte de um rei gera muita insegurança no reinado. O profeta
Isaías coloca isto muito bem para nós ao escrever sua profecia. Ele começa com
uma nota fúnebre – Na morte do Ungido do Senhor – isto é algo muito triste para
o povo do pacto. O povo estava se sentido desamparado, pois, estava sem o
grande protetor - que os salmos usam a
figura do rei como o pastor do povo pactual – levando o povo a desesperança.
Provavelmente
o profeta estava também se sentindo desta forma quando entrou no Templo para
orar a Deus. Mas o que acontece a este profeta? O que ele vê? Ele nos diz “eu vi o Senhor” no texto hebraico
ele diz: “yn"±doa]-ta,
ha,ór>a,w"” – va’er’éth eth Adonay – o termo “yn"±doa]” - Adonay - tem haver com a
realidade daquele, que nos tempos antigos, tinha toda autoridade de definir a
vida e a morte de seus escravos. Ele é o senhor tanto da vida quando da morte,
a supremacia de Deus é apresentada de forma singular pelo uso do substantivo
“Adonay”.
Deus, na visão do profeta,
está “assentando-se sobre o trono” no hebraico comunica a ideia de que Deus
continua como o Rei da nação, apesar da nação ter perdido o seu rei, o
verdadeiro, e único Rei de Israel é o SENHOR.
Isaías
nos apresenta Deus como aquele que é “Santo”. O que este termo significa na
literatura veterotestamentária? O significado desta palavra é muito debatido
entre os eruditos em Antigo Testamento. O Dr. Sinclair B. Ferguson diz que este
termo traz consigo mesmo “idéias tais como ‘cortar’ ou ‘separar de’, ‘ser
colocado à distância’, daí o sentido de ‘se posto à parte’, a fim de pertencer
a Deus”.[1]É
notório que o termo hebraico vdq;)
(qadosh) tem uma significação de “manifestar-se como santo, consagrar
para, separar de, conferir santidade, evidenciar-se como santo”.[2]
O que isto evidencia na discussão sobre este tema? É o fato de que este
adjetivo tem a função de comunicar “distância moral” entre o Deus
santíssimo e o homem pecador. “A
santidade de Deus é uma visão da pureza do seu eterno e infinito ser”.[3]
Isto é bastante ilustrativo no texto de
Isaías 6 onde Deus é contemplado como estando em um alto e sublime trono e o
profeta como um miserável pecador que perecerá diante daquele que é três vezes
santo.
A
comunicação desta distância moral entre o homem e Deus são ressaltadas em
primeiro plano pelo adjetivo “santo” exaltando
a singularidade da separação do substantivo ao qual o termo adjetiva.
Indicando separação imperativa entre o
impuro e o santíssimo; ensejando a Plena Santidade de Deus que não tolera o
pecado.
Esta é a visão da teontologia de
Isaías, um Deus santo no qual homem não pode tocar. Esta distância é ainda
acentuada no versículo 5: o profeta disse: “habito no
meio de um povo pecador”( ameäj.-~[; ‘%Atb.W ykinOëa') –’anoki uvthok ‘am teme’ – ao usar o pronome pessoal (ykinOëa); -’anoki) o profeta quer nos oferecer uma ênfase singular, ele não busca
se desculpar, ele não se esquiva, mas se inclui na lista dos pecadores; ele não
apenas convivia, mas ele habitava no meio de (‘%Atb.W - uvethok)
um povo (-~[; - ‘am) cheio de impureza (ameäj. - teme’) ele declarou que era alguém que estava perdido (ytiymeªd>nI-yki(
yliä-yAa) - ’oy-li ki-nidemeythi) o verbo hebraico usado aqui para “estar perdido” é o verbo “rm*:D*:”- damar- que está sendo usado no nifal aqui, indicando a passividade
sofrida pelo profeta, todavia, o significado do verbo é cortar – ou seja, o
profeta diz “estou sendo cortado” também ele disse que era um profundo pecador;
por quê? A resposta é porque ele era um homem de “impuros lábios”.
Isso porque a
concepção de Deus apresentada pelo profeta é de um ser que não pode ser
contaminado pelo pecado, a figura das vestes do ser divino envolvendo o templo
nos indica isso de forma muito clara; ele emudece, pois, enquanto os Serafins
cantavam a santidade de Deus e não ousavam a olhar para Deus; o profeta,
encontrava-se calado diante de tal majestade, lhe faltava os chãos aos pés ao
contemplar tamanha santidade divina.
II - A ANTROPOLOGIA DO PROFETA ISAÍAS.
(ISAÍAS 1)
Isaías chega a
contemplar a santidade de Deus o profeta, e não fica apenas nesta contemplação,
pois, em sua profecia também nos mostra a visão que ele possui do homem. Nós só
podemos conhecer quem é o homem quando somos impulsionados a contemplarmos a
Deus. Calvino já afirmava exatamente esta verdade sobre os seguintes termos:
Quase toda a suma de nossa
sabedoria, que deveras se deve ter por verdadeira e sólida sabedoria, consiste
em dois pontos: a saber, no conhecimento que homem deve ter de Deus, e no
conhecimento que deve ter de si mesmo. Mas como estes dois conhecimentos estão
mui unidos e entrelaçados, não é coisa fácil de distinguir qual precede e
origina o outro, pois, em primeiro lugar, ninguém pode se contemplar sem que
por algum momento se sinta impulsionado a levar em consideração a Deus, no qual
vive e se move; porque não existe quem duvide que os dons, nos quais toda a
nossa dignidade consiste, não sejam de maneira alguma nosso.[4]
É exatamente esta
compreensão que temos ao ler o capítulo um do livro do profeta Isaías. Neste
capítulo temos a visão do que é o homem, temos a antropologia do profeta. Ao
contemplarmos este capítulo corremos o
risco de interpretarmos a antropologia do profeta em termos puramente
negativos, embora seja algo predominante nos textos do Antigo Testamento, esta
não é a real concepção aprendida pelo profeta. É verdade que esta distância moral existe entre
a criatura e o criador, mas ela existe primeiro para mostrar que somos seres
dependentes e para apontar para a soberania de Deus.
O
profeta começa o seu capítulo dizendo
que toda a profecia é fruto de uma “Visão” (!Azx] - hazon)
apontando
para a realidade de que a profecia não nasce dele, mas é divina. O profeta como
grande escritor vale-se de um oráculo de julgamento em todo este primeiro
capítulo, toda a estrutura do texto nos leva para esta abordagem.
Como é
classificada esta palavra de julgamento? É classificada como uma “ameaça que anuncia uma desgraça, imediatamente
acompanhada de justificativa ou sem ela, por causa do pecado dos homens”[5].
Deus
chama os céus e a terra como testemunhas “ Ouvi, ó céus, e
dá ouvidos, tu, ó terra;”(vs.2). A figura de um tribunal é bem vívida na mente do
profeta. Os céus e a terra devem prestar atenção “W[Üm.vi”(shim‘u) mas, não sem compromisso, porém,
deve estar atentos como testemunhas do Senhor; e a razão disso é “porque o SENHOR
tem falado:” o contraste é gritante, enquanto a Criação ouve a voz de seu Criador,
Israel que é retratado como filho “‘~ynIB'”(banim), aqui no plural, não
o obedece e conseqüentemente não escuta a voz do seu Pai, antes de tudo manifesta sua rebeldia “W[v.P'î”(pashe‘u); ora aqueles filhos
foram engrandecidos “yTil.D:äGI”(giddalethi)
, mas eles decidiram ir contra o Criador de todas as coisas.
O
contraste se acentua quando no versículo 3 Deus informa que os animais sem
razão reconhece quem cuida deles, mas “Israel não
tem conhecimento, o meu povo não entende.” O profeta
usa de um parelelismo sinônimico com tônica negativa.
`!n")ABt.hi al{ïb’ yMiÞ[;a’ [d:êy" al{åb ‘laer"f.yIa
este paralelismo é percebido da seguinte forma :
‘laer"f.yI - isera’el (
Israel)
|
yMiÞ[; -‘ammi (meu
povo)
|
[d:êy" al{å - lo’ yada‘ ( sem conhecer)
|
!n")ABt.hi al{ï - lo hithebonan (sem entender)
|
O substantivo “Israel” tinha sua
ideia repetida como “meu povo” apontando para uma relação paralela e sinônima,
e de igual modo está a tônica negativa “sem conhecimento” faz paralelo com “não
entende”
No versículo
seguinte segue-se um paralelismo tipo sintético onde há desenvolvimento dos
pensamentos anunciados. O povo é retratado nos termos mais pecaminosos
possíveis: “Ai, nação
pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos
corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para
trás.”
(vs.4). O paralelismo é sintético sendo
percebido pelo uso que profeta usa de fórmulas que completam o sentido da
primeira imagem. O dito de julgamento “Ai” anuncia o juízo que vem
caraceterizando o povo que está para ser sentenciado; “nação pecadora” o termo
diz alguma verdade, mas o profeta quer completar o sentido; ele o faz de forma
singular: “povo carregado de iniqüidade” é claro que o sentido
é sinônimo, porém, sintético; o povo não
só peca, mas carrega sobre os seus ombros profundas maldades.
Outro fato que nos chama atenção é
que antes este povo fora chamado de “filhos de Deus” – Criei filhos “yTil.D:äGI ‘~ynIB'” banim giddalethi – mas agora eles são retratados como
“descendentes de malfeitores” - ~yti_yxiv.m; ~ynIßB' banium
mashhithim – no original “filhos pútridos”. O profeta passa a descrever o
homem sem esperança; um homem insensível às ameaças e às punições de Deus; está
ferido, mas não se arrepende. Comete o que é mal diante de Deus no ato da
adoração; eles consagraram as costas para Deus “deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.”
(vs.4). Eles consagraram ao Santo de Israel as suas costas “`rAx*a' WrzOðn"”nazuru ’ahor – eles de fato rejeitaram o
autor da vida.
O homem é mal e se levanta contra o
próprio Deus! Esta é a visão do profeta Isaías sobre a realidade do que seja o
homem. E ainda assim, Deus tenciona chamar o povo ao arrependimento mostrando a
real situação da cidade:
7
A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a
vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada,
numa subversão de estranhos. 8
E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal,
como uma cidade sitiada.
Mas, o povo continua
insensível. A visão que sobra é um homem desesperadamente corrupto sem alguma
bondade nele. O povo é contemplado na
profecia como um povo prostituto ( vs.10-20) o povo é exortado a mudar de
atitudes pecaminosas. O homem é totalmente depravado, e nos parece que não
existe esperança para este. Será mesmo? A grande questão é: Qual a importância
de Isaías acentuar esta distância entre o homem e Deus? A resposta está no
aspecto redentivo de um mediador que é retratado com propriedade neste livro. O
mediador é a figura pactual e central neste livro. O povo quebrou as relações
pactuais e Deus quer manter as estipulações com este povo, mas mediante um
mediador do pacto.
III - A SOTERIOLOGIA DO PROFETA
ISAÍAS
( Is. 52-53.12)
A figura do “servo
sofredor” de Yahweh passa a ser a personagem dominante da profecia de Isaías
neste momento. Assim, aflora o conceito redentivo deste profeta. A redenção não
vem em termos das aliança políticas que os reis de Israel tencionava realizar
com as nações vizinhas[6],
mas se torna real no conceito divino do mediador.
Quem é este “Servo
Sofredor”? Alguém disse que as “expressões
de que se ser o profeta para descrever o Ebed são ao mesmo tempo precisas e
misteriosas...E, no entanto, não sabemos quem é este “Servo do Senhor”, e
ainda somos informados que o “profeta não
nos diz nem quando nem em que circunstâncias ele aparece”[7].
Estes versículos são tidos
como cânticos do Servo Sofredor. E tais versículos têm sido divididos “em cinco estrofes de três versículos cada”[8].
Nós devemos analisar estas estrofes para entendermos os conceitos
soteriológicos do profeta.
O profeta começa a primeira
estrofe deste texto mostrando que neste novo momento Israel precisa perceber que
há uma promessa redentiva neste personagem. O profeta usa uma partícula de
intejeição “hNEïhi” - hineh -
mostrando uma transição direta das experiências do povo pactual para as
experiências do redentor. Ele será prudente ou seja a sabedoria se faz presente.
O profeta apresenta-nos a “dimensão
gloriosa” deste servo, pois, ele “será
elevado, exaltado e colocado numa posição muito alta”[9].
Os verbos usados aqui tem
sido considerados como sendo uma referência a um paralelismo sintético ou
progressivo “Hb;Þg"w>
aF'²nIw> ~Wrôy"” (yarum,venisa’, vegavahu)
mas, estes verbos não devem ser considerados nesta estrutura, e , sim como
verbos que forma um paralelismo sinônímico. Embora alguns eruditos discordem
desta abordagem sugerindo que aqui faz-se uma referência a “três estágios:
emergir da humilhação, contínua exaltação e admissão numa elevada posição”[10].
Todavia, outros como Young aponta que esta não “é a intenção de Isaías”[11].
O profeta no uso destes
verbos está apontando para o alto grau de exaltação do servo sofredor. É
importante notar que o “Servo não se
torna um exaltado”[12].
O nó exegético de alguns eruditos encontra-se nos versos 14-15 do capítulo
52. Estes versículos não tem sido
avaliados dentro do escopo gramatical que exigem ser compreendidos. Muitos tem sugerido
que o versículo 14a é uma prótase[13],
seguida de uma declaração “parentética, que por sua vez, são seguidas pela
apódose”[14]
neste caso a expressão “ os reis fecharão
as suas bocas por causa dele” explica a primeira sentença.
As conjunções usadas pelo
profeta indica exata a função deste mediador pactual na figura do Servo do
SENHOR. O uso da conjunção “!KEÜ”-ken- associada ao verbo “‘hZ<y:”-yazeh - esclarece
adequadamente o uso das conjunções conforme empregadas pelo profeta. O verbo
aqui pode significar “esguichar”, “espalhar”, “aspegir” o verbo encontra-se no
hiphil indicando que o sangue do Servo causará a libertação ou perdão dos
pecados. A ação dos que pasmam e dos reis que se calam devem ser tomadas, com
certa cautela, como sinônimos e a expressão “rv,’a] yKiû”-ki ’asher
- deve ser tomadas como um acentuação do
contraste promovido pelo profeta entre os que pasmam e ficam calados “por causa
dele” ou da ação redentiva que o Servo traz ao povo.
A redenção manifesta
humilhação para aqueles que se julgam poderosos ( os reis ), o homem desprezado
é o autor da redenção. O profeta em sua profecia indica que as nações serão
aspergidas pela ação de redenção sacrificial trazida pela Servo do SENHOR. Algo
se destaca aqui neste trecho das Escrituras (Is. 53.1-12) não são todas as
nações que recebem a morte do Servo com valor expiatório, não era destinado
unicamente ao povo do pacto (Israel) mas inclui-se os eleitos de Deus em toda
tribo raça e nação “5
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das
nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.”
A extensão da obra
redentiva é cósmica. Os efeitos da expiação do Servo alcança todo o cosmo. A
restauração não apenas do homem com Deus é manifestada aqui, mas a paz ( o
castigo que veio sobre ele nos deu a paz) e a justiça devem ser manifestações
de um reino eterno que alcança o mundo em proporções universais.
A terceira realidade é que
o Servo assume seu direito régio; a humilhação e o sofrimento dele antecipa o
seu governo sobre todas as nações. Neste Servo os três ofícios se encontram –
Profeta, Sacerdote e Rei – isto indica que a redenção é de fato uma realidade
que não pode ser negada.
O capítulo 53 começa com
uma pergunta em tom de acusação contra o povo: “Quem deu crédito”? “!ymiÞa/h, ymiî” - mi he’emin - os gentios creem, mas o
povo da aliança recusa-se a crer. Este é o contraste, e apenas, um remanescente
irá exercer fé naquilo que fora anunciado.
O braço forte aqui indica a
ação redentiva de Yahweh para com o povo da aliança. O povo tem “testemunhado o julgamento de Yahweh sobre os
inimigos e a poderosa ação que traz salvação e liberdade”[15].
O servo apesar de manifestar tal redenção será desprezado, assim como foram os
profetas do Antigo Testamento, isto trará ao Servo um sofrimento visível. A
desfiguração e as doenças cairão sobre ele em favor do seu povo. Ele
experimenta as trágicas conseqüências do pecado, tudo para diminuir a distância
entre o homem e Deus, e trazê-lo de novo à comunhão com o seu criador. O texto
nos indica que o Servo terá sucesso em sua ação redentiva ,pois, “ele verá o fruto penoso”, uma referência
ao seu sofrimento vicário, “e ficará
satisfeito” indicando uma consumação total e final da obra da redenção. Ou
seja, o Servo Sofredor de fato salvará os pecadores de forma total e final garantindo assim a salvação eterna do seu
povo.
O conceito messiânico
apresentado aqui indica não apenas um mediador, mas que este mediador é Deus,
pois, diz que este servo salvará o povo de seus pecados, e apenas, Deus pode
salvar os homens dos pecados nos quais estão imersos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS.
Quais as implicações disto
tudo? São várias. A primeira diz respeito a questão da soberania de Deus no
governo do mundo. Apenas Deus governa o mundo com profunda sabedoria e realizações
poderosas; aqui aprendemos a verdade de que Deus não pode ser removido do trono
do universo; esta é a primeira implicação que podemos ter do livro deste
profeta.
A segunda, ainda que ligada
a primeira, é que esta soberania é retratada não apenas em termos de poder, mas
em termos de santidade também. Isto significa que Deus como se revela na
profecia de Isaías é o padrão absoluto da moralidade neste mundo. Não existe
nada e ninguém que possa determinar o que seja certo ou errado sem levar em
consideração a santidade de Deus; pois, somente ele pode ditar regras e padrões
de moralidade isto por causa de sua santidade absoluta.
A terceira implicação diz
respeito ao que é o homem. O homem é um ser que fora criado conforme a Imagem
de Deus, visto e contemplado como filho de Deus; mas ao cair em transgressão
este só planeja roubar a glória de Deus, destronar o soberano do universo. “e
como Deus sereis...”(Gn.3.5) foi a tônica da tentação. O homem não estava satisfeito
em ser apenas criatura, ele queria ser divino! Essa realidade volta a ser
apresentada aqui na profecia de Isaías o homem corrompido é chamado a se
arrepender, mas ele não quer vir ao encontro de Deus; ele rejeita a Deus com
seus pecados, desconhece o seu criador. Faz o que é mal perante os olhos de
Deus, este é o homem totalmente depravado que Isaías apresenta.
E, por último é a realidade
de que se o homem não vem ao encontro de Deus; então, Deus, na pessoa do Servo
Sofredor, mediador pactual, vai até o homem para redimir e resgatá-lo dos seus
pecados escrabosos, apenas um mediador entre Deus e os homens pode de fato
realizar a obra da redenção de forma real e suficiente. Ele diminui a distância
entre o homem e Deus.
REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS:
1.
CALVINO, João. Institución de la religión Cristiana, Barcelona: FELiRE , 1999.
2.
CULLMANN,
Oscar. Cristologia do Novo Testamento,
São Paulo: Hagnos, 2008.
3.
FERGUSON,
Sinclair B. O Espírito Santo, São
Paulo: Os Puritanos, 2000.
4.
GRONINGEN, Gerard
Van. Revelação Messiânica no Antigo
Testamento – A origem e divina do conceito messiânico e seu desdobramento
progressivo, São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
5.
KIRST, Nelson.
Dicionário de Hebraico – Português &
Aramaico-Português, Rio de Janeiro: Vozes & Sinodal, 1987.
6. RIDDERBOS, Joe. Isaiah,
Grand Rapids: Zondervan, 1985.
7.
YOUNG,
Edward. The Book of Isaiah, 3 vols. Grand
Rapids: Eerdmans,1965.
8.
SALLIN, E. & FOHRER, Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Paulus, 2007.
*
O autor é Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Formou-se em
Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife – PE. Também foi
professor de línguas bíblicas (Grego e Hebraico) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do
Brasil (SPFB) em Recife – PE. Atualmente é pastor na Igreja Presbiteriana em
Piripiri – PI. Também é casado com Géssica Araújo Soares Nascimento de França e
pai do pequeno Lucas Luis Nascimento de França.
[1] FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo, p.16
[2] KIRST, Nelson. Dicionário de Hebraico – Português & Aramaico-Português, p.211
[3] FERGUSON, Sinclair B.,
Op.Cit,p.16
[4] CALVINO,Juan.
Institución de La Religión Cristiana.
Tradutor: Casidoro de Valera. Barcelona:FELiRE, 1999, Livro I, Cap. 1, seção 1
[5] SALLIN,
E. & FOHRER, Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Paulus, 2007, p.
498
[6]
Infelizmente por falta de espaço, e por fugir do escopo deste trabalho, não
discutiremos esta tônica que é percebida no capítulo 7 da profecia de Isaías.
Onde Acaz é exortado a confiar em Deus
em vez de suas alianças políticas, a figura do mediador apresenta-se no
versículo 14 deste capítulo; e isto tem suscitando grandes divergências entre
os mais hábeis intérpretes de nosso
tempo.
[7] CULLMANN,
Oscar. Cristologia do Novo Testamento,
São Paulo: Hagnos, 2008, p.78.
[8] GRONINGEN,
Gerard Van. Revelação Messiânica no
Antigo Testamento – A origem e divina do conceito messiânico e seu
desdobramento progressivo, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 593.
[10] RIDDERBOS, Joe. Isaiah, Grand
Rapids: Zondervan, 1985, p.471.
[11] YOUNG, Edward. The Book of Isaiah,
3 vols. Grand Rapids: Eerdmans,1965, p. 3.335
[12] GRONINGEN, Gerard Van. Revelação
Messiânica no Antigo Testamento – A origem e divina do conceito messiânico e
seu desdobramento progressivo, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 594.
[13] A
palavra significa que há uma exposição
do assunto de um drama ou a primeira parte de um período gramatical.
[14] YOUNG, Edward. The Book of Isaiah,
3 vols. Grand Rapids: Eerdmans,1965, p. 3.336-337
[15] GRONINGEN,
Gerard Van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento – A origem e divina do
conceito messiânico e seu desdobramento progressivo, São Paulo: Cultura Cristã,
2003, p.598.
Apenas uma breve correção, que tenho certeza foi por distração. Uzias foi rei de Judá e não de Israel.
ResponderExcluirGostei muito desse estudo sou a favor de estudos claros com linguagem simples e compreensível pelo o leitor.Fui edificada e tive meu conhecimento enriquecido,que Deus abençoe vocês .
ResponderExcluir