quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SALMO 117 - UMA ABORDAGEM EXEGÉTICA

Um Breve Estudo sobre o Salmo 117.
Por João Ricardo Ferreira de França[1].
observação: Para que o leitor visualize as abordagens exegéticas deste texto é necessário a instalação das fontes gregas e hebraicas correspondentes, o leitor poderá baixá-las e instalá-las no seu Computador para isso basta clicar no link que segue:


Introdução: 

O salmo escolhido para o nosso estudo nos revela algumas verdades fundamentais para a vida da Igreja. Verdades que têm sido negligenciadas com mais clareza, tais como a evangelização, a motivação para adoração, o desinteresse pela certeza do amor de Deus e de sua fidelidade. São estas verdades que fazem com que a Igreja de Cristo cresça, e uma vez que qualquer uma delas sejam de fato negligenciadas, tais atitudes colocam a Igreja em uma situação desfavorável. Então, precisamos entender a mensagem deste salmo; entendê-lo nos termos da revelação de Deus.
 A que família pertence este salmo? Os eruditos estão  divididos. Alguns têm sugerido que este salmo deveria ser classificado como um cântico de peregrinação, todavia, isso é impossível porque lhe faltam os elementos necessários para esta classificação.
            Este salmo é perfeitamente classificado como um salmo que pertence a família dos hinos. É bom que se diga que este salmo pertence a um grupo de “nove salmos moldurados por acrósticos alfabéticos incomuns isso os incluí  nos ‘Hallels egípicios’(salmos que memoram a ação amorosa de Deus na libertação do cativeiro egípcio). Os salmos incluem a celebração da redenção contida nos Hallels  oferecerem instrução na piedade que se deve caracterizar [a vida] daqueles que se unem na celebração dos atos salvadores de Deus a favor do seu povo”[2], isso nos leva a considerar como este salmo é organizado.
            Nós temos dito que este salmo pertence a família dos hinos no saltério, mas como isso pode ser identificado neste salmo? Bem, é necessário entender que a temática deste tipo de salmo é “exaltar a grandeza e majestade de YAHWEH e, por conseguinte, da cidade onde ele (Deus) habita”[3] veja como percebemos isso:
           
No salmo escolhido deve haver: a) convite ao louvor
                                                           b) motivação – “porque”
                                                           c) novo convite ao louvor.
           
Estes são os elementos básicos e fundamentais para a compreensão adequada do texto em apreço, de posse destas informações, vejamos a estrutura deste salmo 117.



ESTRUTURA DE SEGMENTAÇÃO TEXTUAL

hw"hy>â-ta, Wlål.h;(

~yI+AG-lK'


WhWxªB.v;÷

`~yMi(auh'-lK'

LOUVAI o SENHOR          


 Nações todas
                                                 Convite e destino

Exaltai-o

 Povos todos.
ADªs.x; Wnyle’[' rb:Üg"¬ yK
 
~l'ªA[l. hw"ïhy>-tm,a/w

Porque é forte por nós seu amor,
                                                                                                 Motivação
E a fidelidade do SENHOR é para sempre.


Hy")-Wll.h
Aleluia![4]                                          Convite Final.

            Bem, vendo a estrutura já temos os pontos para a nossa pregação estabelecidos no próprio texto, qual seria o tema? Deixe-me sugerir: Quando Louvar a Deus consiste mais do que palavras ao vento.
            Vamos agora analisar o texto dentro da perspectiva exegética e teológica? O salmista escreve este texto com objetivos específicos, ele vislumbra a universalidade da chamada à adoração a Deus como um imperativo na conotação de convite.
           
I – LOUVAR A DEUS É UM CONVITE UNIVERSAL.

            O salmista começa este salmo valendo-se de um duplo paralelismo sinonímico no versículo primeiro.
Ele diz: Louvai ao SENHOR   nações todas, exaltai-o todos os povos. O verbo “Louvar” e “exaltar” no texto são sinônimos, bem como “todas as nações” como “povos todos”. O verbo “Louvar” Wlål.h (halelu) é um verbo que está no “piel” – o piel é usado no hebraico para expressar atividade causativa, este verbo está no modo imperativo – é uma ordem! O modo imperativo Descreve uma ordem ou um pedido, neste caso, aqui é um convite, visto que o piel usado neste verbo tem o sentido da atividade do adorador, ou seja, o salmista convida os seus ouvintes a louvarem ao SENHOR. É uma ordem no sentido de que Deus merece o louvor, e é um convite no sentido de que os adoradores devem empenha-se nesta tarefa.
            Não é louvar a qualquer ser que exista na terra. Os termos do salmista são bastante claros, ou seja, louvar aqui tem um objeto especifico para tal manifestação, não se deve louvar a outro ser senão ao “SENHOR”, o termo hebraico aqui é Yahweh, que quer comunicar mais que um nome. O nome de Deus evoca esta magnitude do divino. O texto que temos diante de nós informa que o Deus que é pessoal é chamado de SENHOR no texto hebraico temos “hw);:hy” (yahweh). Esse nome revela não só o próprio nome de Deus, mas aponta para o nome pactual no qual Deus tem se revelado através da história da redenção. Mas a idéia “contida no nome Yahweh insiste num... estar sob o impacto da presença, algumas vezes terrível, outras benévolas, mas sempre comovedora e eficaz, do Deus com incríveis demonstrações de poder, e assim, Ele afirma seu senhorio e garante a vitória” [5]
         Isto implica dizer que o nome pactual de Deus visa trazer à memória do povo que Ele realizou atos redentivos e singulares, como as pragas do Egito, como a abertura do mar vermelho. São atos que Deus realizou como atos memoriais do seu nome pactual.
Esse nome Yahweh não significa somente uma relação pactual, mas indica também a existência eterna de Deus.
            O convite para adoração é universal. A questão respondida pelo salmista é: “Quem deve adorar a Deus?” O salmista não pensa duas vezes antes, e desta forma ele lança o convite para “todas as nações” – este aspecto é importante para ser analisado. O Culto tem alvo Evangelístico, alvo missiológico.
            Isso nos mostra que o salmista entendeu que a adoração ao SENHOR é para o mundo inteiro. Este tema universal de adoração ou louvor se repete em vários salmos. O salmo 66.1 faz o apelo idêntico: “Louvai a Deus com brados de júbilo, todas as terras”; e ainda temos o salmo 96 que começa com a mesma tônica: “Cantai ao Senhor um cântico novo
                                                              “Cantai ao Senhor, todos os moradores da Terra.”

            É digno de nota o que diz Russell Shedd sobre o aspecto universal do convite para se adorar a Deus, ele disse: “Enquanto existir um povo ou mesmo um único homem que não reconheça que Deus é digno de receber toda a glória, o culto será incompleto”.[6] A palavra que o salmista usa para “todas as nações” ~yI+AG-lK' (kol-goym) tem haver com povos na raça; sendo que esta expressão kol-goym faz paralelo sinonímico com “todos os povos”; e,  no texto hebraico temos a palavra “`~yMi(auh'-lK'”(kol-há’umim)  que tem haver com povos tribais, ou seja, cada povo com a sua língua é convidado a louvar a YAHWEH.
            O salmista continua o seu texto nos dizendo que o convite dirigido a todos os povos é para exaltar a Deus. Já temos dito que este verbo está no imperativo “exaltai-o”, e o mesmo é um sinônimo de “Louvai ao SENHOR”. Mas o salmista usa aqui a palavra hebraica “WhWxªB.v;÷”(shabbehuhu) que tem o sentido de louvar, aclamar com grande voz, tem a idéia dominante de glorificar(digna-se ao leitor entender que o verbo vem da mesma raíz de Shabbath, será possível compreender isto como uma referência ao dia de adoração?); o salmista convoca todos os homens da terra para glorificarem a Deus de forma intensa, pois, o verbo está também no piel. Vale salientar que um verbo no piel não descreve apenas a idéia de intensidade, mas também a idéia de continuidade. Deve sempre viver glorificando a Deus.

II – MOTIVOS PELOS QUAIS DEUS DEVE SER LOUVADO.

            O salmista não pára em nos mostrar a universalidade do convite para a adoração ou para o louvor a YAWEH, mas ele nos oferece os motivos para esse convite; ele deseja nos oferecer bases fundamentais para realizar este convite aos homens.
            O salmista diz: “Porque é forte o seu amor para conosco”. A conjunção “porque” é usada, pelo salmista, de forma proposital, no hebraico temosyKiî(ki) essa conjunção  é usada para expressar propósito. Qual é a motivação para se louvar a Deus? O salmista nos diz que é o amor de Deus e a sua fidelidade! Ou misericórdia.
            O louvor não deve ter motivações humanas – não são atos humanos ou a disposição humana, mas o ato de adoração está vínculo a uma relação direta com um ato divino.
            No uso do termo hebraico “rb:Üg"¬”(Gavar)descreve a grandeza de Deus como é mostrado neste salmo de exaltação à majestade de Deus. Esta grandeza é refletida no seu caráter de fortaleza. Por isso, o termo pode ser traduzido por “forte”. Em Deus encontramos a fortaleza do amor supremo! É exatamente isso que ele diz: “Porque é forte o seu amor...” o vocábulo “amor” pode ser traduzido por “misericórdia”, ou seja, quando o hebraico emprega a palavra “ADªs.x;”(haseddo) uma relação pactual deve ser subentendida; isto deve ser vista como a plena manifestação amorosa de Deus. O amor de Deus é forte e plenamente manifestado de forma misericordiosa.
            A nossa real motivação para o culto deve ser de fato o amor de incomensurável de Deus. Sem esta visão fica-nos impossível termos uma real razão para o culto a Deus; pois, não temos o amor redentivo, libertador e grandioso de Deus como pano de fundo da adoração; em contrapartida, precisamos convocar os homens para louvar a Deus e isso deve servir base, ou seja, o amor gracioso de Deus me obriga a anunciar aos homens que ele deve ser louvado.
            O salmista não termina meramente em termos do amor de Deus. Ele deseja ratificar esse amor de forma mais clara possível. Ele sugere que este amor é refletido na realidade da “fidelidade eterna de Deus”. Não devo apenas louvar a Deus tendo como consideração unicamente o seu amor – na verdade não devo interpretar esse amor em conotações puramente românticas – pois, isso fugiria de fato ao que esse amor realmente significa; a palavra “fidelidade” tem algo a nos informar sobre o caráter de Deus e de sua ação amorosa.
            O termo hebraico “tm,a/w<”(veemeth) – e a verdade – o termo deve ser traduzidos por fidelidade porque está vinculado ao amor de Deus, ou a sua misericórdia, o salmista evoca a “fidelidade” de Deus dentro dos termos aliancistas. O pacto de Deus é administrado por sua fidelidade, Deus se mantém fiel a aliança, e por isso, deve ser objeto de louvor, objeto de adoração!O salmista diz que a verdade ou fidelidade que reside em Deus é o que de fato nos oferece a certeza de redenção, a certeza de que de fato somos amados – “É forte o seu amor por nós” – mesmo a despeito dos nossos pecados, ele se encontra verdadeiro em suas promessas e ameaças.
            A garantia que temos é que sua “fidelidade” não passageira, ou mesmo, não é temporal, ela é de fato eterna! Quando o salmista usa o termo “~l'ªA[l.”(le’olam) – para sempre – vale-se de uma preposição inseparável que é diretiva “l.”(lê)indicando o local desta “fidelidade”, no sentido de indicar onde podemos encontrá-la: “Sempre” ou “na eternidade”! O uso do substantivo aqui “~l'ªA[”(‘olam) indica a eternidade de Deus e de sua fidelidade, isto significa, que os povos devem ser convocados para adorarem a Deus não porque ele vai nos oferecer uma vida tranqüila prospera ou coisa do tipo, mas indica nada mais, nem menos que Deus tem um amor eterno para conosco – e a base disso está nesta fidelidade singular e eterna de Deus!Esta é uma grandiosa fundamentação para o louvor sincero a Deus, para o culto é a motivação essencial, ou seja, Deus é eternamente fiel em seu amor para conosco.

III – LOUVAR A DEUS É UM CONVITE INCONDICIONAL.

            A vida cristã deve estar baseada neste convite – ele é universal, mas é também incondicional, não deve ser condicionado as circunstâncias. Por mais adversas que nos parecem as circunstâncias não deveriam parar o nosso louvor a Deus.
            Isso não quer dizer que seja pecado dizer que está doendo, que está dificil. Mas significa que apesar de tudo Deus continua sendo Deus mesmo em meio ao sofrimento! A dor e o descontentamento com a vida.
            O salmista depois de nos apresentar as razões para se louvar a Deus, ou melhor, os motivos pelos quais ele deve ser louvado; ele retorna para o convinte inicial – como se dissesse: “Então venha louvar ao Senhor” uma vez que você compreende o que isso significa – estar centralizado, abalizado e edificado no amor de Deus e na sua fidelidade pactual – então, devemos dizer “Aleluia”, no texto hebraico temos “Hy")-Wll.h;(”(Halelu-yah). Note como o autor construiu esta expressão – ele valeu-se do verbo que aparece no primeiro versículo “Wlål.h”(halelu) mais o designativo que forma o nome pactual de Deus “Hy”(Yah) – em outras palavras o salmista diz que o futuro do povo está em louvor o Deus que é eterno.
            Não é algo condicionado ao homem, mas algo incondicional – todos devem louvar a Deus – este é o convite real que precisamos; a regeneração das almas visa transformá-las em mais que redimidas, visa transformá-las em adoradores verdadeiros de Deus. Este é o ponto em questão, então, a evangelização visa trazer homens para a glória de Deus! Isso deveria permear a nossa mente. Precisamos pregar o evangelho para que os homens adorem, louvem e exaltem a Deus – isso é louvar mais do que palavras ao vento! É mais do que música cantada, é viver com esse propósito. Diante disso que aplicações podemos deixar:

1.      Entenda que louvar a Deus é mais do que palavras quando você entende que este ato é um chamado universal.
2.      Que para concretizar precisa-se da evangelização de pecadores, pois, só assim todas as nações irão louvar ao Senhor.
3.      Compreenda que base para se lançar este convite é o amor e a fidelidade de Deus ao povo do pacto.


           







           








[1] O autor deste estudo é Membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. É o fundador e  atualmente lidera a Congregação Presbiteriana da Sagrada Herança Reformada – Em prazeres – Jaboatão dos Guararapes – PE. Está bacharelando em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte – Recife.
[2] BOSMA, Carl J. Estrutura significante do Saltério – Instrução para a vida piedosa no Reino de Deus, aulas lecionadas no Seminário Presbiteriano Conservador, São Paulo:2004. (obra não publicada)
[3] DIAS, Cássio Murilo. Leia a Bíblia como Literatura, Edições Loyola, p.61, São Paulo: 2007
[4] Algumas versões traduzem por Louvai ao SENHOR. Como faz a Corrigida Fiel.
[5] Walther Eichrodt, Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Hagnos, 2006,p.165.
[6] SHEDD, Russel P. Adoração Bíblica ,São Paulo: Vida Nova,1987,p.113.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O QUE É O CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

O que é o Centro de Estudos Presbiteriano?

Além de ser uma pasta de arquivos do meu Computador. Consiste em um projeto que visa trazer conhecimento bíblico aos crentes que não tem acesso a uma boa formação ou informação bíblico-teológica.
Quando surgiu o CEP?
Ele surgiu no ano de 2000 quando havia completado um ano de filiar-me à Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife - PE. Na ocasião trabalhava na catequização dos adolescentes da nossa igreja. E ai surgiu a ideia de formar um grupo de Estudos todos os domingos à tarde. Estudar o quê? Bem, decidi que deveria estudar os símbolos de fé da Igreja Presbiteriana do Brasil. Como presidente da UMP da igreja local eu convoquei toda a mocidade para comparecer às aulas, nesta ocasião chamei o meu amigo Heitor Alves, que era vice-presidente da mocidade, ele prontamente aceitou, em seguida convidei o Diácono Noberto Júnior para estar também no projeto nos auxiliando.
Os estudos foram divididos em duas ordens: 1) Heitor Alves ficaria com o ensino da Confissão de Fé de Westminster; e 2) Eu ficaria com o Breve Catecismo de Westminster, e às vezes o Diácono Noberto Jr. Ficaria na reserva caso tanto o Heitor quanto eu não pudesse comparecer às aulas. Bons, tempos aqueles! Ali comecei a esboçar as primeiras aulas que formariam muitos alunos para fazer profissão de fé e batismo.
Naquelas tardes de domingo nascera o Centro de Estudos Presbiteriano. Que crescia com a presença dos alunos que começavam a se interessar pela Teologia Reformada. Começamos a produzir uma revista - Herança Reformada - pena que somente ficou com um exemplar. Depois, o Mocidade News; mas, por circunstâncias alheias a mim o CEP parou de ser geograficamente localizado; e seguiu sendo móvel até hoje - o CEP não tem uma sede específica, um local específico, mas tem um objetivo definido: A Glória de Deus!
No CEP já produzi vários textos, artigos e apostilas. Temos textos que falam sobre "Os pilares da Fé Reformada"; "Introdução ao Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento"; "A visão Reformada dos Primeiros Capítulos do Gênesis"; "Exposição aos Dez Mandamentos"; "A oração no Ensino de Calvino"; "A Reforma Radical - Uma introdução Histórica-dourinária"; "Estudos na Confissão de Fé de Westminster"; "A Teologia do Profeta Isaías"; "A Perspectiva do Dia do Senhor na Profecia de Obadias"; "A Eucaristia na Reforma Protestante"; "Os Símbolos de Fé No Presbiterianismo"; "Introdução à Hermenêutica Bíblica"; "A Doutrina da Salvação no Presbiterianismo"; "O Pentecostalismo e Neo-Pentecostalismo"; "Estudando o Credo Apostólico"; etc.
Prof. João Ricardo Ferreira de França
Presidente e Fundador 
do  Centro de Estudos Presbiteriano

A CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO.

  A CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO . Rev. João França   A confissão de fé de Westminster, padrão de fé da Igreja Presbiteriana, possui...