sábado, 11 de outubro de 2014

A AUTORIA DO LIVRO DE GÊNESIS

A AUTORIA DO LIVRO DE GÊNESIS
Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
            O livro de Gênesis tem sido estudado e debatido ao longo dos  séculos. No Século XIX ele foi alvo de uma gama de considerações, especulações no meio acadêmico de forma geral. E uma das ocupações destas discussões certamente concentra-se sobre a temática: Quem escreveu Gênesis? O nosso estudo se ocupa desta temática.
I -  A AUTORIA MOSAICA DO LIVRO DE GÊNESIS.
            A pergunta dominante entre os eruditos em Antigo Testamento é a seguinte: Moisés escreveu Gênesis? Dois problemas decorrem da resposta oferecida a esta importante questão: “Negue que Moisés escreveu o Pentateuco, e alguns suspeitarão, da sua lealdade à fé. Afirme que Moisés escreveu o Pentateuco, e outros questionarão a sua inteligência”[1].
            A questão da autoria do livro de Gênesis está vinculada a compreensão de quem Escreveu o Pentateuco. Esse questionamento concernente à autoria se dá porque “tecnicamente Gênesis é um livro anônimo”[2]. Então, a busca pela autoria do livro deve-se estender pela procura do autor do conjunto de livros que formam o Pentateuco.
            A tradição da igreja tem sustentando que Moisés seja o autor dos cinco primeiros livros da Bíblia. Um erudito em Antigo Testamento declara:
O autor humano do Pentateuco foi Moisés, o grande legislador de Israel. É fato que não existe nenhuma introdução, anotação, ou declaração  que a obra em toda a sua extensão seja produto de Moisés (Cronill). Contudo, há um testemunho convincente, de que Moisés escreveu o Pentateuco.[3]
             Quais  são as indicações que nos levam a crer que Moisés seja o autor do livro de Gênesis.

1. Somos informados no Pentateuco que Moisés recebeu revelação e registrou atos redentores:
          O autor do Gênesis recebera de Deus revelações e registrou atos redentores para a posteridade conforme somos ensinados na totalidade dos cinco livros da Lei.  E tais registros são atribuídos a Moisés:
1.1 – Ele escreveu centros acontecimentos históricos: (Êxodo 17.14; Números 33.2)
1.2 – Ele escreveu leis: (Êxodo 24.4; 34.27)
1.3 – Ele escreveu um Cântico (Deuteronômio 31.22; veja-se Deuteronômio 32)
2. Há indicações à atividade de escrita por Moisés.
            Na leitura que fazemos do Pentateuco há fortes indicações que liga a autoria dos cinco livros a Moisés.
2.1 – Há indicação de que Moisés deixou uma tradição escrita: (Josué 1.6,7).
2.2 – Posteriormente os israelitas referem-se ao Pentateuco como sendo a “Lei de Moisés” ( 2º Crônicas 25.4; Esdras 6.18; Neemias 13.1)
2.3 – O Novo Testamento assevera que o Pentateuco é obra de Moisés: (Mateus 19.7; 22.24; Marcos 7.10; João 1.17; 5.46; 7.23).
            Notemos que tais textos não se referem diretamente ao Livro que estamos estudando, mas refere-se ao Pentateuco, o qual Gênesis é considerado o primeiro capítulo. Por isso, consideramos que Gênesis tenha a sua autoria associada a Moisés.
II -  DIFICULDADES COM A AUTORIA MOSAICA DO LIVRO DO GÊNESIS.
            Apesar de toda esta evidência a respeito da autoria do Livro ainda existem dificuldades em relacionar Moisés como o autor da totalidade do Pentateuco. O exemplo mais gritante é o caso de Deuteronômio 34 que trata da Morte de Moisés; será que Moisés escreveu a sua própria morte? Alguns têm apelado para a questão de uma revelação especial de Deus. Todavia, é provável que se trate de uma edição posterior à morte de Moisés. Mas, será que isso invalida a questão da autoria mosaica para o livro como um todo? Vejamos mais alguns exemplos:

2.1 – Dificuldades Posteriores a Moisés:
1. A correção de dados Geográficos e históricos:
Gênesis 11.28,31; 15.7 – Nesta narrativa figura o nome da cidade de Abrão “Ur dos Caldeus”. A cidade de Ur sua existência é aceita pelos eruditos, o problema está no designativo da cidade “dos Caldeus”. Os Caldeus foi um povo que viveu no primeiro milênio antes de Cristo; consequentemente posterior a Moisés, ou seja, ele já estava morto.
O que ocorreu? Alguém adicionou o designativo para localizar o leitor exatamente onde era a cidade. E, isso foi necessário ser feito porque havia outras cidades com o nome de Ur. Então, ao acrescentar essa designação a intenção era mostrar de qual cidade vinha o ancestral do povo de Deus.[4]
2 . Alteração de Nomes e Lugares:
            O nosso segundo exemplo vem de Gênesis 14. Nesta passagem é-nos dito que Abrão luta com os reis para libertar ao seu sobrinho Ló. No verso 14 aparece o nome da cidade de Dã; entretanto,  o nome da cidade foi dado muito tempo depois de Abraão conforme vemos em Juízes 17-18; tal cidade já existia no tempo do patriarca, mas sob o nome de Laís. Fica-se claro que tal empreitada editorial da alteração do nome da cidade era para que os leitores soubessem onde realmente ficava esse lugar.
2.2 – Dificuldades Anteriores a Moisés:
            Devemos nos lembrar de que o Livro do Gênesis é uma narrativa dos inícios; tais, como a criação do mundo. A pergunta a ser feita é como Moisés tomou conhecimento dos eventos da criação anteriores a sua própria existência? Alguns poderão dizer que tratou-se de uma revelação divina; todavia, essa possibilidade na composição do livro não cientifica e nem salutar para as nossas pesquisas.[5] A posição que entendemos pelas evidências do texto de Gênesis é que Moisés utilizou-se de outras fontes para compor o livro. Vejamos:
1. Há fórmulas Literárias que indicam o uso de fontes:
            Existe na narrativa de Gênesis uma fórmula literária que é chamada de “Toledot” que são sentenças que começam pela expressão hebraica: “אֵ֣לֶּה תוֹלְד֧וֹת ” – ‘eleh Tholedoth” que tem como tradução “estas são as gerações de”.  É bom que se diga que o livro do Gênesis tem sido estruturado de diversas formas. Alguns tem sugerido que o livro possui várias seções, embora tais estruturas, não sejam facilmente percebida em nosso idioma. “Isso ocorre porque, na maioria das traduções, a palavra hebraica toledoth é traduzida por mais de uma expressão em português. A expressão hebraica completa ’elleh toledoth, que aparece onze vezes no livro de Gênesis.”[6]
"ESSAS SÃO AS GERAÇÕES DE..."
Fórmula
Conteúdo
Referência
No princípio, criou Deus...
Criação
1.1 – 2.3
Esta é a gênese dos céus e da terra
Criação
2.4 – 4.26
Este é o livro da genealogia de Adão
Genealogia de Sete a Noé
5.1 – 6.8
Eis a história de Noé.
Dilúvio & Aliança
6.9 – 9.29
São estas as gerações dos filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé
Base das nações & Babel
10.1 – 11.9
São estas as gerações de Sem
Genealogia de Sem a Abrão.
11.10-26
São estas as gerações de Tera.
História de Abrão
11.27 – 25.11
São estas as gerações de Ismael, filho de Abraão,
Genealogia de Ismael
25.12-18
São estas as gerações de Isaque, filho de Abraão.
Transmissão de bênção de Isaque para Jacó
25.19 – 35.29
São estes os descendentes de Esaú
Genealogia de Esaú
36.1-43
Esta é a história de Jacó
José & Israel no Egito
37.1 – 50.26

            Estas fórmulas tratam-se de materiais escritos previamente, antes mesmo de Moisés existir, que pode ser provado em Gênesis 5.1 que trata do “livro das gerações de Adão” conforme lemos no próprio texto hebraico: “סֵ֔פֶר תּוֹלְדֹ֖ת ” – Sefer Tholedoth. Então, já havia uma tradição escrita da qual o autor do livro de Gênesis fez uso.
2. Parece haver indicações de autoria múltipla no texto de Gênesis.
            Outra dificuldade que encontramos em respeito à autoria mosaica do livro de Gênesis está no fato de que o próprio livro parece indica que há mais de um autor em sua composição final. Vejamos alguns exemplos:
2.1 – O caso da venda de José (Gênesis 37.25-28):
            A questão é que a passagem narra a venda de José o filho preferido de Jacó. E a questão perturbadora no texto é a seguinte: Para quem os filhos de Jacó venderam José? Para os Ismaelitas ou Medianitas ? Alguns sugerem que havia dois relatos da venda de José por causa dessa alternância dos nomes; implicando, que o texto não é fruto de um único autor.
            “Os dois termos são usados de forma intercambiáveis (Juízes 8.24); “Daí parece que “ismaelita” era um termo inclusivo, abrangendo os primos nômades de Israel (Ismael era o rebento mais velho de Abraão), mais ou menos como o termo “ árabe” abarca numerosas tribos em nossa maneira de falar, podendo alternar com um dos seus nomes sem ofensa ou erro.”[7]
2.2 – O Relato da criação (Gênesis 1 e 2)
            Ambos os relatos foram escritos de uma perspectiva diferente e até com pontos de tensão. Por exemplo, em Gênesis 1 a vegetação e criado no terceiro dia e o homem no sexto. Já em Gênesis 2.5 é nos dito que o casal é edênico foi criado quando não havia erva alguma no campo. A explicação que muitos oferecem é de que se trata de dois relatos escritos por autores diferentes. Todavia, a narrativa se concentra na ordem lógica, “a saber, que quando Deus fez a terra, esta não era inicialmente o hospitaleiro lugar que conhecemos (Não havia ainda nenhuma planta... ainda nenhuma erva, 5)”[8]. A linguagem aqui é informativa. O autor informa ao leitor o processo da criação.


[1] LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.47.
[2] Idem.
[3] YOUNG, Edward J. Una Introducción Al Antiguo Testamento, MI: TELL, 1991, p.32.
[4]LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.50

[5] Deixamos claro que cremos na revelação que Deus fez de si mesmo por meio da instrumentalidade dos homens chamados por ele mesmo; tais como o próprio Moisés que recebeu diretamente das mãos de Deus os dez mandamentos.
[6] LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.72
[7] KDINEY, Derek, Gênesis – Introdução e Comentário, Tradução: Odayr Olivetti, São Paulo: Vida Nova,  P.171
[8] Ibid, p.56.

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