quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A REJEIÇÃO DE ISRAEL

A REJEIÇÃO DE ISRAEL
Por: Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.

Ele era como os que foram enviados pelo dono da casa para que recebessem os frutos da vinha dos lavradores; porque exortava a todos os homens a retomar o interesse. Porém, Israel o desprezou e não quis retornar, pois sua vontade não era correta, e além do mais mataram aos que haviam sido enviados, e nem sequer se detiveram de atentar contra o senhor da vinha, mas que o mataram. Certamente, quando chegou e não encontrou fruto neles, lhes maldisse por meio da figueira, dizendo; “Nunca mais nasça fruto de ti” [ Mateus 21.19]; e a figueira ficou morta, sem frutos, de forma que até os discípulos se maravilharam quando a figueira secou. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta: “Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das mós, e a luz do candeeiro.” (Jeremias 25.10 ARA). Porque a obra completa da lei tem sido abolida entre eles, e de agora em diante e para sempre permanecerão sem festas.
Atanásio, Letters [vi]
            Ler a Bíblia em termos do tema do paraíso pode aprofundar nossa compreensão sobre duas passagens mais familiares da Escritura. De repente, podemos entender por que, por exemplo, o Salmo 80 e Isaías 5 descrevem o povo do pacto como  “a vinha do Senhor”. Como temos visto, este era uma recordação do estado original do homem em comunhão com Deus no Éden. Também era um lembrete de que, quando Deus salva o seu povo, lhe constitui em Jardim renovado (ou vinha renovada), e assim, os escritores bíblicos usavam repetidas vezes as imagens de plantar, árvores, vinhas, e frutos para descrever a salvação em seus vários aspectos (João 15 é um exemplo bem conhecido). Contudo, também é importante reconhecer que as imagens do Jardim podem se usar para descrever a apostasia e a maldição, porque a primeira violação do pacto teve lugar no Éden. Deus havia dado a Adão uma comissão para que cultivasse e guardasse sua “vinha”; em lugar disso, Adão se havia rebelado contra o dono da terra, e havia sido amaldiçoado e expulso, perdendo sua herança. Esta imagem dupla da vinha como lugar, tanto de benção como de maldição, é um importante conceito na Bíblia, e se converteu no cenário de uma das mais notáveis parábolas de Jesus, a história dos lavradores maus ( Salmos 80 e Isaias 5 devem ser lidos junto com isto).
Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam.  E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram.  Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
 (Mateus 21.33-39 ARA)
            Em sua graça, Deus havia enviado profetas a Israel ao longo de sua história, e os homens de Deus sempre havia sido tratados aleivosamente. “Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.” (Hebreus 11.37-38 ARA). O fato é que Israel havia rejeitado consistentemente a palavra de Deus e maltratando aos profetas, desde o começo. Como lhes acusou Estevão (justamente antes de ser assassinado pelos líderes judeus):  “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos,” (Atos 7.51-52 ARA).
            O maléfico tratamento dos profetas por parte de Israel alcançou seu clímax no assassinato do Filho de Deus, como Jesus predisse em sua parábola. Logo perguntou a seus ouvintes:
Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.
 (Mateus 21.40-43 ARA)
            Os judeus haviam pronunciado sua própria sentença de condenação. E certamente, a vinha lhes seria tirada; o Senhor viria e lhes destruiriam, e daria a vinha a trabalhadores obedientes que lhe redesse o fruto que Ele desejava. O reino seria tirado dos judeus e dado a outras “pessoas”. Quem seriam estas pessoas? Depois de citar o mesmo texto do Antigo Testamento  que Jesus havia usado, o apóstolo Pedro deu a resposta definitiva, escrevendo à igreja:
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
 (1ª Pedro 2.9-10 ARA)
            O argumento decisivo é que Deus havia usado esta mesma linguagem ao falar para o povo do pacto, Israel, no Monte Sinai. “sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos [...] vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.” (Êxodo 19.5-6 ARA). Pedro disse que aquilo que uma vez era verdade com respeito a Israel, agora e para sempre é verdadeiro com respeito à igreja. Israel era um jardim, uma vinha, em rebeldia contra seu dono ou, para mudar a metáfora, uma arvora sem frutos, como disse Jesus em outra parábola:
Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.
 (Lucas 13.6-9 ARA)
            Jesus, o senhor da vinha, passou os três anos de seu ministério viajando por Israel buscando frutos. Agora era tempo de “corá-lo”. João, o Batista havia advertido aos judeus, ainda antes que Jesus começasse seu ministério, que a vinha de Israel estava-lhe terminando o seu tempo:
Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
 (Mateus 3.8-10 ARA)
            Este era o problema com Israel. Ainda que os judeus tivessem dado boas-vindas a Jesus em Jerusalém fazendo-o andar sob os ramos de árvores como reconhecimento de sua vinda e restauração do Éden. (Mateus 21.8-9), os ramos não tinham frutos. De maneira interessante, a mesma passagem continua e mostra o que sucedeu depois que Jesus se foi de Jerusalém. Enquanto caminhava, encontrou uma figueira e buscou frutos, porém não encontrou nenhum. Assim prontamente amaldiçoou a figueira, dizendo: “Nunca mais nasça frutos de ti”. E imediatamente a figueira secou (Mateus 21.18-19). O mesmo ocorrerá ao Israel estéril e impenitente.
A Geração Terminal
            Claro que, a culpa recaiu principalmente nos líderes do Israel, os cegos guias dos cegos, que conduziam a nação inteira para o buraco (Mateus 15.14). Por isso, Jesus diria particularmente suas acusações iradas contra eles (veja-se Mateus 23). Porém incluía também ao povo em geral em sua condenação, como podemos ver nas palavras finais de sua última mensagem pública:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração.
 (Mateus 23.29-36 ARA)
            Os pecados de Israel, suas rebeliões e suas apostasias, se haviam estado acumulando por séculos, enchendo o cálice até transbordar. O ponto crítico chegou quando veio o Filho. Sua rejeição dEle selou sua sorte, e por sua vez foram rejeitados por Deus. A geração que crucificou ao Senhor e perseguiu seus apóstolos era a verdadeira “geração terminal”. Israel, como o povo do pacto, havia de ser destruído, final e irrevogavelmente. Havia recebido a advertência final. Anos mais tarde, pouco antes de que o holocausto do ano 70 d.C. descesse sobre Israel, o apóstolo Paulo escreveu que “os judeus, os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente”. (1ª Tessalonicenses 2.14-16 ARA)
            Como nação, Israel havia se convertido em apóstata, uma prostituta espiritual em rebeldia contra seu Esposo (veja-se Ezequiel 16). As terríveis palavras de Hebreus 6.4-8 se aplicam literalmente à nação do pacto, que havia renunciado a sua primogenitura:
É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.
            A mesma multidão que deu boas-vindas a Jesus em Jerusalém com hosanas clamou por seu sangue em menos de uma semana. Como todos os escravos, sua atitude era inconstante; porém, finalmente, sua atitude se resumiu em outras parábolas de Jesus: “Não queremos que este reine sobre nós.” (Luca 19.14 ARA) Os principais sacerdotes revelaram a fé da nação quando negaram veementemente o senhorio de Cristo e afirmaram: “Não temos rei, senão César!” (João 19.15 ARA).
            Assim que o povo do pacto herdou a maldição. Haviam feito os ramos ondularem direção do filho do dono quanto entrou na vinha, aparentemente para dar-lhe boas-vindas em sua propriedade legal; mas, quando Ele chegou mais perto e inspecionou os ramos, não encontrou nenhum fruto – somente folhas. Para conservar o modelo que temos visto em nosso estudo do Jardim do Éden, Israel estava maduro para ser julgado, deserdado, e expulso da vinha.
            Porém, não somente tinha os exemplos do Éden, o dilúvio, Babel, e outros juízos históricos como admoestações. Por meio de Moisés, Deus havia dito especificamente que a maldição cairia sobre eles se apostassem da verdadeira fé. Faríamos bem em recordar para nós mesmos as advertências de Deuteronômio 28, onde Deus ameaça com a perda da família e as possessões, ser assolados por diversas enfermidades, sofrer a causa da guerra e a opressão por uma nação pagã vitoriosa, voltar-se ao canibalismo por causa da fome tremenda, e ser vendidos como escravos e dispensados sobre a face da terra.
Assim como o SENHOR se alegrava em vós outros, em fazer-vos bem e multiplicar-vos, da mesma sorte o SENHOR se alegrará em vos fazer perecer e vos destruir; sereis desarraigados da terra à qual passais para possuí-la. O SENHOR vos espalhará entre todos os povos, de uma até à outra extremidade da terra. Servirás ali a outros deuses que não conheceste, nem tu, nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. Nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o SENHOR ali te dará coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma. A tua vida estará suspensa como por um fio diante de ti; terás pavor de noite e de dia e não crerás na tua vida. Pela manhã dirás: Ah! Quem me dera ver a noite! E, à noitinha, dirás: Ah! Quem me dera ver a manhã! Isso pelo pavor que sentirás no coração e pelo espetáculo que terás diante dos olhos.
 (Deuteronômio 28.63-67 ARA)
            A causa de Israel haver cometido o supremo ato de violação do pacto ao rejeitar a Cristo, o próprio Israel foi rejeitado por Deus. As terríveis maldições pronunciadas por Jesus, Moisés, e os profetas se cumpriram na terrível destruição de Jerusalém, na desolação do templo e a desaparecimento da nação do pacto no ano 70 d.C. (veja-se o Apêndice B para ler a descrição deste evento, e compará-la com as maldições descritas em Deuteronômio 28). Tal como Deus havia prometido, o reino foi realmente estabelecido quando Cristo veio. Porém, em vez de abarcar e assimilar em sua estrutura ao Antigo Israel, o reino veio e fez pó a Israel. O novo templo de Deus, a igreja, foi estabelecido quando o antigo templo foi derribado e reduzido a escombros.









domingo, 1 de setembro de 2013

A VINDA DO REINO

A VINDA DO REINO
 Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.

Em seguida, ascenderá Salvador para o céu dos céus, levando nos pés a vitória, Triunfante de seus  inimigos e dos seus, em Sua ascensão surpreenderá a Serpente, como é o ar, e arrastando acorrentado em torno de seu império, a deixará por último confundida. Entrará prontamente em sua glória, e recuperará  o seu trono à mão direita de Deus, magnificamente exaltado acima de todas as honras do céu.
John Milton, Paraise Lost [12.451-58].

Nosso Senhor Jesus Cristo, que tomou sobre si a morte de todos, estendeu as mãos, não em qualquer lugar abaixo da terra, mas no mesmo ar, para a salvação efetuada por meio da  cruz pudesse ser mostrada a todos os homens em todos os lugares: destruindo o diabo trabalha  nos ares, e para que  Ele pudesse consagrar nosso caminho ao  céu, e liberá-lo.
Atanásio, Letters [xxii]

            Adão foi criado rei. Haveria de subjulgar a terra e tendo domínio sobre ela. Seu domínio, contudo, não era absoluto; Adão era um governante subordinado, um rei (príncipe) sob a autoridade de Deus. Era rei somente porque Deus lhe havia criado como tal e lhe havia ordenado reinar. O plano de Deus era que sua imagem reinasse no mundo sob suas leis e sua supervisão. Enquanto Adão fosse fiel a sua comissão, poderia ter domínio sobre a terra.
            Porém, Adão foi infiel. Não estava satisfeito com ser governante subordinado à imagem de Deus, aplicando as leis de Deus à criação, e quis ser autônomo. Quis ser seu próprio Deus, fazer suas próprias leis. Por este crime de rebelião, ele foi expulso do Éden. Porém, como temos visto nos capítulos anteriores, este incidente não fez abortar o plano de Deus de domínio por meio de sua imagem. O segundo Adão, Jesus Cristo, veio a cumprir a tarefa que o primeiro Adão não havia cumprido.
            Durante todo o Antigo Testamento, os profetas estavam cada vez mais o momento em que o Rei designado por Deus vim a sentar-se no trono. Um dos Salmos citados, geralmente, pelos escritores do Novo Testamento, mostra a Deus Pai dizendo ao seu Filho, o rei:
Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. (Salmos 2:8-9 ARA)”
            Os profetas deixaram bem claro que, como Adão, o rei que viria havia de reinar sobre o mundo inteiro (não somente sobre Israel): “Domine ele de mar a mar e desde o rio até aos confins da terra.  Curvem-se diante dele os habitantes do deserto, e os seus inimigos lambam o pó.  Paguem-lhe tributos os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes. E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam.” (Salmos  72.8-11 ARA).
            Deus mostrou a Daniel um esboço da história, no qual uma grande estatua (representa os quatro impérios da Babilônia, Medo-Persa, Grécia e Roma) é derrubada e esmagada por uma rocha; “Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra”. (Daniel 2.35 ARA). O significado desta visão é a restauração do Éden sob o Rei, como explicou Daniel: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,” (Daniel 2.44 ARA). Cristo, o Segundo Adão, levará a cabo a tarefa designada ao primeiro Adão, fazendo que o Monte Santo cresça e alcance o mundo inteiro.
Ascendendo ao Trono
            Em uma visão posterior, Daniel previu realmente a entronização de Cristo como o Rei prometido:
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.
Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7.13-14 ARA)
            Na atualidade, se supõe comumente que este texto descreve a Segunda Vinda e assim, que o reino de Cristo (chamado geralmente de o milênio) começa somente depois de seu regresso. Claro que isto passa por cima do fato de que Daniel já havia profetizado que o reino começaria nos dias do Império Romano. Porém, nota-se exatamente o que Daniel disse: Se vê a Cristo aproximando-se, não distanciando-se! Ele o Filho do homem vai até ao Ancião de Dias, não em direção oposta a ele! Não está descendo nas nuvens para a terra, mas ascendendo nas nuvens até seu Pai! Daniel não estava predizendo a segunda vinda de Cristo, mas estava muito bem descrevendo o clímax do primeiro advento, no qual, depois de expiar os pecados e derrotar a morte e Satanás, o Senhor ascendeu nas nuvens do céu para sentar-se em seu glorioso trono à direita do Pai. Vale apenas notar também que Daniel usou o termo Filho do homem, a expressão que Jesus adotou mais tarde para descrever a si mesmo. Claramente, devemos entender a expressão Filho do homem simplesmente como filho de Adão – em outras palavras, o segundo Adão. Cristo veio como o Filho do homem, o segundo homem (1ª Coríntios 15.47), para levar a cabo a tarefa que havia sido confiada ao primeiro homem. Veio para ser o Rei.
            Esta é a constante mensagem dos evangelhos. O relato de Mateus sobre o Natal registra a história dos magos do oriente que chegaram a adorar ao Rei, e o zeloso intento de Herodes de destruir-lhe por considerá-lo rival de seu próprio domínio injusto. Em segundo lugar, Cristo escapa e é Herodes quem morre (Mateus 2). Imediatamente, a história de Mateus salta trinta anos a frente para sublinhar o que quer dizer:
“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 3.1-2 ARA).
            Logo, Mateus se volta até o ministério de Jesus dando-nos um resumo da mensagem básica de Cristo para Israel: Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”(Mateus 4.17). “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”. (Mateus 4.23 ARA). Uma simples olhada em uma concordância revelará quão central era o evangelho do reino para o programa de Jesus. E nota-se bem que o reino não era algum milênio distante de milhares de anos no futuro, depois da Segunda Vinda. Jesus anunciou: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. (Marcos. 1.15 ARA). Jesus disse claramente a Israel que se arrependesse agora, porque o reino viria imediatamente.  O reino estava próximo. Jesus o estava introduzindo diante dos próprios olhos deles. (Veja-se: Mateus 12.28; Lucas 10.9-11; 17.21), e pronto ascenderia ao Pai para sentar-se no trono do reino. Por isso, disse aos seus discípulos: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino. (Mateus. 16.28 ARA).
            Jesus estava certo ou equivocado? Nos termos de alguns mestres modernos, Jesus estava errado. E isto não é um pequeno erro de cálculo: Jesus erro o alvo por milhares de anos! Podemos confiar nele como Senhor e Salvador, e todavia sustentar que ele estava equivocado, ou que de alguma forma sua profecia havia saído dos trilhos? Jesus não era somente um homem, como o primeiro Adão. É Deus, o Senhor dos céus e da terra; e si se dispõe a trazer o reino, pode algo deter-lhe? Nem sequer a crucificação foi um contratempo, porque era um aspecto crucial de seu plano. Por isso disse: “porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la”. (João.10.17-18 ARA). Temos que crer no que Jesus disse: Durante a vida dos que o escutavam, o veriam em seu trono. E isso foi exatamente o que fez, culminando em sua ascensão a seu trono celestial.
            Mateus disse que a entrada de Jesus em Jerusalém cumpriu especificamente a profecia veterotestamentária da inauguração do reino:
Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às extremidades da terra.
 (Zacarias 9.9-10 ARA; Veja-se Mateus 21.15)
            O apóstolo Pedro entendia que o significado da ascensão era a entronização de Cristo no céu, citando uma profecia do rei Davi,  Pedro disse:
Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção. A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
 (Atos 2.30-36 ARA) [75]
            É crucial que entendamos a interpretação da própria Bíblia acerca do trono de Cristo. segundo o inspirado apóstolo Pedro, a profecia de  Davi sobre Cristo sentado em um trono não era uma profecia de algum trono terreno em Jerusalém (como alguns insistem erroneamente). Davi estava profetizando acerca do trono de Cristo no céu. É a entronização celestial a que o rei Davi predisse, assim disse Pedro ao seu auditório no dia de Pentecoste. Desde seu trono no céu, Cristo já está reinando no mundo.
            O apóstolo Paulo estava de acordo e escreveu assim sobre a ascensão de Cristo: Deus:
fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,  acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,  (Efésios 1.20-22 ARA)
            Pois, bem, se Cristo está sentado agora sobre todo principado e autoridade e poder e domínio, se todas as coisas estão agora sob seus pés, por que alguns cristãos estão esperando que o reino de Cristo comece? Segundo Paulo, Deus “nos libertou do império das trevas, e nos transladou para o reino do filho do seu amor”. ( Colossenses 1. 13). A Bíblia disse que o reino já chegou; alguns teólogos modernos dizem que não chegou. Há na realidade alguma dúvida sobre em quem devemos crer?
A Prisão de Satanás.
            A promessa original do evangelho estava contida na maldição de Deus sobre a serpente, de que a semente da mulher lhe esmagaria a cabeça (Gênesis 3.15). Em consequência, quando Jesus veio, começou imediatamente a obter vitórias sobre Satanás e suas legiões demoníacas, travando em combate somente ele e expulsando-os efetivamente da terra, junto com a enfermidade e a morte. Houve uma guerra acirrada durante o ministério de Cristo, na qual Satanás perdia terreno continuamente e fugia para esconder-se. Depois de observar a seus discípulos em uma missão que haviam conseguido êxito, Jesus se regozijou: “Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano” (Lucas 10.18-19 ARA). Jesus explicou suas vitórias sobre os demônios dizendo a seus ouvintes que “é chegado o reino de Deus sobre vós”. E continuou: “Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa.” (Mateus 12.28-29 ARA). Era exatamente isso que Jesus estava fazendo no mundo. Estava amarrando a Satanás, o “valente”, para saquear sua casa, para resgatar as pessoas das mãos do diabo.
            A derrota definitiva de Satanás ocorreu na morte e ressurreição de Cristo. Várias vezes, os apóstolos asseguraram aos primeiros cristãos do fato da vitória sobre o diabo. Disse Paulo que, por meio da obra consumada, o Senhor Jesus “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.” (Colossenses 2.15 ARA). O Novo Testamento ensina inquestionavelmente que, ao romper cristo as algemas da morte, Satanás foi deixado impotente (Hebreus 2.14), João Escreveu  que “para isto apareceu o Filho de Deus, para desfazer as obras do diabo” (1ª João 3.8). Novamente, devemos notar que isto está no tempo passado. É um fato consumado. Esta não uma profecia acerca da Segunda Vinda. É uma afirmação sobre o primeiro advento de Cristo. Cristo veio para amarrar e desarmar a Satanás, deixá-lo impotente, destruir suas obras, e estabelecer seu próprio reino como Rei universal, como havia sido o propósito de Deus desde o começo. Segundo a Bíblia, Cristo cumpriu efetivamente o que se havia proposto; a Escritura considera a Satanás um inimigo derrotado, que tem que fugir quando os cristãos se lhe opõe que não pode resistir o ataque vitorioso do exército de Cristo. As portas de sua cidade estão condenadas a derrubar-se diante dos inexoráveis ataques da igreja (Mateus 16.18).
O Crescimento do Reino.
            Neste ponto, alguns objetarão: “Se Jesus é Rei agora, por que não converte as nações? Por que há tanta impiedade? Por que não tudo perfeito?” Em primeiro lugar, não há nenhum “se” condicional no assunto. Jesus é o rei, e seu reino já chegou. A Bíblia diz assim. Em segundo lugar, as coisas nunca serão “perfeitas” antes do juízo final; e até o milênio descrito por certos escritores populares estão longe de ser perfeito (na realidade, em si mesmo é muito pior, porque ensinam que as nações nunca se converterão verdadeiramente, mas que somente fingiram haver-se se convertido enquanto esperam uma oportunidade para rebelar-se).
            Terceiro, ainda que o reino foi estabelecido definitivamente na obra consumada de Cristo, é estabelecido progressivamente*durante a história (até que seja estabelecido finalmente no dia final). Em uma parte, a Bíblia ensina que Cristo Jesus está agora reinando sobre as nações com vara de férreo; agora está sentado com poder sobre todos os outros poderes nos céus e na terra, possuindo toda  autoridade. De outro lado, a Bíblia também ensina que o reino se desenvolve progressivamente, fazendo-se mais forte  e mais poderoso com o passar do tempo. A mesma cara aos Efésios que nos fala do governo absoluto de Cristo sobre a criação (1.20-22), assegurando-nos que estamos reinando com ele (2.6), também nos ordena a pormos a armadura para combater contra o inimigo (6.10-17). Não há nenhuma contradição aqui – só dois aspectos da mesma realidade. E o fato de que Jesus está agora reinando como rei de reis é precisamente a razão de porque temos confiança na vitória em nosso conflito com o mal. Podemos experimentar o triunfo progressivo agora, porque Cristo Jesus triunfou definitivamente sobre Satanás em sua vida,  morte, ressurreição e ascensão.
            Jesus contou duas parábolas que ilustram o crescimento do reino. Mateus:
Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos. Disse-lhes outra parábola: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado. (Mateus  13.31-33 ARA)
            O reino foi estabelecido quando Cristo veio. Porém não tem alcançado seu pleno desenvolvimento. Como um grão de mostarda, começou sendo pequeno, porém crescerá até ficar bem grande (da mesma forma que a rocha que Daniel viu e se tornou monte que preencheu toda a terra). O reino crescerá em tamanho, estendendo-se a todas as partes, até que o conhecimento de Deus cubra toda a terra, como as águas cobrem o mar. O crescimento do reino será extensivo.
            Porém, o reino também crescerá intensivamente. Como o fermento no pão, transformará o mundo, tão seguramente como transforma as vidas individuais. Cristo tem plantado no mundo seu evangelho, poder de Deus para a salvação. Como o fermento, o poder do reino continuará operando “até que tudo esteja levedado”.
            Depois de examinar esta parábola, você se poderia perguntar como poderia alguém negar uma escatologia do domínio. Como pode alguém ignorar a força deste versículo? Aqui é como: o derrotista simplesmente explica que a “levedura” não é o reino, mas uma representação de como as heresias maléficas que são plantadas na igreja pelo diabo! Incrivelmente, seu caso é tão desesperado que recorrerá a jogos de cartas, convertendo uma promessa da vitória do reino em uma promessa da derrota da igreja. Nota-se bem que tudo está levedado; o versículo ensina a vitória total, de um lado ou de outro.
            Por conseguinte, segundo Jesus, que lado ganhará? Contrariamente aos pessimistas, Jesus não disse que o reino é como a massa, na qual alguém introduz sorrateiramente o mau fermento. Jesus disse que o reino é como o fermento. O reino começou pequeno, e seu crescimento frequentemente tem sido desapercebido e algumas vezes virtualmente invisível, porém continua fermentando e transformando o mundo. Onde estava o cristianismo há 200 anos? Consistia de mero punhado de pessoas que haviam sido comissionadas para fazer discípulos às nações – um pequeno grupo que seria perseguido por seus próprios compatriotas e ao que se oporia o exército do Império mais poderoso da história. Que possibilidades lhe haveriam dado de que sobreviveriam? Contudo, a igreja saiu vitoriosa do conflito, ganhadora por uma ampla vantagem; Roma e Jerusalém não passaram do ponto de partida. Os últimos vinte séculos têm sido testemunhas do progresso que só poderia negar os cegos voluntários. Tem-se estendido por todas as partes o fermento do evangelho? Claro que não. Ainda não. Mas o fará. Deus nos tem predestinado para a vitória.     




* Nota do Tradutor: vale salientar que a posição do David Chilton é Pós-milenista  que difere do tradutor da presente obra.

A CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO.

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