AS INSTITUTAS DA
RELIGIÃO CRISTÃ DE CALVINO: SEU CONTEXTO HISTÓRICO.
Rev. João Ricardo
Ferreira de França
INTRODUÇÃO:
A história da igreja tem personagens
significativos em seu rol. Há ilustres nomes ao longo do tempo desde os grandes
heróis da fé conforme registra Hebreus capítulo de número onze até missionários
que são martirizados por testemunhar sua fé! Nessa tão densa nuvem de
testemunhas, de heróis, de homens compromissados com o Evangelho, existe um
homem conhecido como João Calvino (1509-1564), no cenário atual tem se escrito
uma gama de biografias, artigos, teses sobre a sua pessoa e sua vida.
A teologia
de Calvino tem sido discutida e debatida em duas fontes principais, a primeira,
é a sua coleção de comentários bíblicos que abarcam tanto o Antigo quanto o
Novo Testamentos – uma fonte de consulta e pesquisas constantes; a outra é
aquilo que tem sido considerada a opus Magnum de Calvino: As Institutas da Religião Cristã.
Neste estudo pretendemos considerar o contexto no qual as Institutas foram
escritas. A razão para este estudo é que muitos ditos herdeiros da fé Reformada
ou Calvinista passam pelo seminário teológico sem nunca ter uma cadeira
especifica (uma disciplina) que aborda o conteúdo desta obra de João Calvino.
I – CALVINO: SUA VIDA.
O
reformador francês nasceu no dia 10 de julho de 1509 na cidade de Noyon, na
França. Seu pai era um administrador financeiro do palácio do bispo católico da
diocese de Noyon (LAWSON, 2007, p.18). O pai o havia criado para o sacerdócio,
pois, naquele tempo isso era bastante rentável. Calvino ingressou na
Universidade de Paris com o objetivo de estudar teologia, isto aos 14 anos de
idade, para ter a preparação formal, e então, torna-se um sacerdote católico
romano; aos 17 anos Calvino graduou-se em mestre em ciências humanas (Ibid,
p.19).
O pai de
Calvino, após, um desentendimento com as autoridades eclesiásticas de Noyon
decide colocar o filho para estudar Direito na universidade de Orleáns (1528),
Calvino como um filho obediente, assim o fez. Porém, o Pai de Calvino morre em
1531; então, o futuro reformador mudou a direção de seus estudos para a
literatura clássica que era a sua paixão. Seu primeiro comentário foi sobre uma
obra clássica “De Clementia” do filósofo romano Seneca. Este comentário
de Calvino foi a sua tese de doutorado do futuro teólogo reformador de Genebra.
(LAWSON, 2007, p.20)
II – O CONTEXTO DAS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ
A
conversão de Calvino à fé evangélica foi uma súbita conversão a Cristo, “onde
as amarras do papado”, conforme ele descreve em seu prefácio ao comentário do
livro de Salmos, esta conversão ele a descreve de um modo quase que poético:
Minha mente, que, a despeito de minha juventude
estivera por demais empedernida em tais assuntos, agora estava preparado para
uma atenção séria por uma súbita conversão, Deus transformou-a e a trouxe-a à
docilidade (GEORGE, 1994, p.31)[1]
A Conversão
de Calvino deu um novo ar as perspectivas do avanço da Reforma tanto em Genebra
como na França.
a)
O Nascimento das
Institutas:
A primeira edição das Institutas
foi em 1536. Desde o princípio deve-se
ressaltar que o surgimento desta obra se deu pelo incentivo de um amigo de Calvino
chamado Louis du Tillet, Calvino ficou certa vez hospedado em sua casa
onde produziu “grande parte de seu livro as institutas”, porém, este amigo de
Calvino posteriormente se voltou para o romanismo.[2]
O próprio Calvino escreveu como uma
cartilha para instruir os cristãos novos na fé. Ela (as institutas) alguns anos
após o fracasso literário de Calvino com a obra “De Clementia” este
datado de 1532. A obra de Calvino o “De Clementia” foi uma espécie de
desapontamento para seu autor, e, até mesmo em sacrifícios financeiros não
compensados, um evidente fracasso, por tanto. (FERREIRA, 1985, p.142) O livro
não se vendia. “Quase ninguém tomou conhecimento de sua publicação.” (HALSEMA,
2009, p.28).
Alguém já disse que o caminho da
providência gerou o “insucesso do ‘De Clementia’ para aniquilar o humanista
que começara a repontar em Calvino e dele fazer um teólogo consumado que havia
de ser, nas Institutas” (FERREIRA, 1985, p.142). E, assim, temos o nascimento
das Institutas como uma cartilha para orientar aos cristãos protestantes na
vida de piedade.
b. O Título da Obra:
Nos compete também considerar o
título da Opus Magnum de Calvino
conforme considerada neste artigo. O título que o Reformador deu a sua obra
magna foi: “O Ensino Básico da Religião Cristã, compreendendo quase a
soma total da piedade do que é necessário conhecer sobre a Doutrina da
Salvação. Um Trabalho recém-publicado que muito merece ser lido por todos os
que estudam a Piedade. Um Prefácio ao mais cristão Rei da França, oferecendo a
ele este livro como uma Confissão de Fé do autor, Jean Calvin de Noyon”(GEORGE,
1994, p.177)[3]
O que se destaca no título no título da obra são quatro princípios básicos:
1.
As Institutas seria um
manual básico da fé protestante;
2.
As Institutas visavam fomentar
a piedade cristã nos caminhos da salvação;
3.
As Institutas tem um
caráter apologético;
4.
As Institutas chegam com
força de uma confissão de fé.
Estes princípios são tão notórios
que que o próprio Calvino resumiu a obra, em sua primeira edição, dando-lhe o
título de Breve Instrução, que serviu como uma confissão de fé da Igreja
de Genebra.
III – A ESTRUTURA TEOLÓGICA DAS INSTITUTAS.
Consideremos
agora a estrutura teológica das Institutas da Religião Cristã. A primeira
edição das Institutas consistia de uns poucos seis capítulos, que podem ser estruturados
do modo com segue:
1.
A Lei de Deus – Uma Breve
Exposição dos Dez Mandamentos;
2.
A Fé – Uma sucinta Exposição
do Credo Apostólico;
3.
A Oração – Apresenta-se uma
exegese da oração dominical (O Pai Nosso);
4.
Os Sacramentos - Calvino discute
a doutrina do Batismo e da Eucaristia (Santa Ceia)
5.
Os Cinco Sacramentos
adicionais - Calvino de forma
apologética refuta os cinco sacramentos adicionais dos romanistas;
6.
A Liberdade Cristã e a Igreja
– Aqui o Reformador Francês toca em três
delicados temas para a época:
a.
A Liberdade Cristã e de consciência;
b.
A política Eclesiástica;
c.
O Magistrado Civil.
Com os passar dos anos a mente de
Calvino e a sua pena foram maturando suas ideias e as Institutas foi ganhando
corpo, chegando a uma edição final em 1559. Composta com quatro volumes com um
esquema teológico mais abrangente e completo para a instrução na fé reformada. Seu
esquema de organização ficou como segue:
VOLUME I – O CONHECIMENTO DE DEUS, O CRIADOR:
1.
O conhecimento duplo de
Deus;
2.
As Escrituras;
3.
A Trindade;
4.
A Criação;
5.
A Providência.
VOLUME II – O CONHECIMENTO DE DEUS, O REDENTOR:
1.
A queda, Pecaminosidade do
homem;
2.
A Lei;
3.
Antigo e o Novo Testamentos
(sua relação);
4.
Cristo, o Mediador: Sua
Pessoa (Profeta, Sacerdote, Rei) e a obra da expiação;
VOLUME III – O MODO PELO QUAL RECEBEMOS A GRAÇA DE CRISTO,
SEUS BENÉFICIOS E EFEITOS:
1.
Fé e Regeneração;
2.
Arrependimento;
3.
Vida Cristã;
4.
Justificação;
5.
Predestinação;
6.
A última ressurreição (final)
VOLUME IV – OS MEIOS EXTERNOS
PELOS QUAIS DEUS CONVIDA-NOS À SOCIEDADE DE CRISTO.
1.
A Igreja.
2.
Os Sacramentos
3.
O Governo Civil.
CONCLUSÃO:
Este
artigo visou apresentar em linhas gerais o contexto das Institutas da Religião
Cristã de João Calvino. Mostrando o quatro geral de como esta obra foi
desenvolvendo-se até chegar a sua forma atual nos dias hoje.
BIBLIOGRAFIA:
1.
BEEKE,
Joel. R.; JONES, Mark. Teologia Puritana –
Doutrina para a Vida. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova,
2016.
2.
BEZA, Theodoro de. A Vida e a Morte de João Calvino. Tradução: Waldyr Carvalho Luz.
São Paulo: Editora Luz para o Caminho, 2006.
3. CALVINO,
João. Comentário sobre o Livro de Salmos,
Volume 1. Tradução: Valter Graciano Martins, São Paulo: Editora Fiel, 2009.
4.
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras –
Uma Perspectiva Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
5.
FERREIRA, Wilson de Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia, São
Paulo: Luz Para o Caminho,1998.
6.
CALVINO, Juan. Instiución de La Religión Cristiana. Tradução: Cipriano de
Valera. Barcelona:1999
7.
GEROGE, Timothy. Teologia dos Reformadores.Tradução: Gérson Dudus e Valéria Fontana.
São Paulo: Editora Vida Nova, 1994
8.
HALSEMA, Thea B. Von. João
Calvino Era Assim. São Paulo:
Editora Os Puritanos, 2009
9.
LAWSON, Steven. A Arte Expositiva de João Calvino. Tradução:Ana Paula Eusébio
Pereira. São Paulo: Editora Fiel,2008.
[1]
Veja-se CALVINO, João. Comentário aos Salmos, São José Campos – SP: Volume
1,2009, p.31.
[2] Veja-se
TOKASHIKI, Ewerton B. Pastoreando o Rebanho de Deus – Os documentos de Ordem
da Igreja de Genebra. Teófilo Otoni – MG: Credo Reformado Publicações,
2022, p.31 – nota de número 15.
[3] Ênfase
nossa.