terça-feira, 11 de julho de 2023

AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ DE CALVINO: SEU CONTEXTO HISTÓRICO.

AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ DE CALVINO: SEU CONTEXTO HISTÓRICO.

Rev. João Ricardo Ferreira de França

INTRODUÇÃO:

             A história da igreja tem personagens significativos em seu rol. Há ilustres nomes ao longo do tempo desde os grandes heróis da fé conforme registra Hebreus capítulo de número onze até missionários que são martirizados por testemunhar sua fé! Nessa tão densa nuvem de testemunhas, de heróis, de homens compromissados com o Evangelho, existe um homem conhecido como João Calvino (1509-1564), no cenário atual tem se escrito uma gama de biografias, artigos, teses sobre a sua pessoa e sua vida.

            A teologia de Calvino tem sido discutida e debatida em duas fontes principais, a primeira, é a sua coleção de comentários bíblicos que abarcam tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos – uma fonte de consulta e pesquisas constantes; a outra é aquilo que tem sido considerada a opus Magnum de Calvino:  As Institutas da Religião Cristã. Neste estudo pretendemos considerar o contexto no qual as Institutas foram escritas. A razão para este estudo é que muitos ditos herdeiros da fé Reformada ou Calvinista passam pelo seminário teológico sem nunca ter uma cadeira especifica (uma disciplina) que aborda o conteúdo desta obra de João Calvino.

I – CALVINO: SUA VIDA.

            O reformador francês nasceu no dia 10 de julho de 1509 na cidade de Noyon, na França. Seu pai era um administrador financeiro do palácio do bispo católico da diocese de Noyon (LAWSON, 2007, p.18). O pai o havia criado para o sacerdócio, pois, naquele tempo isso era bastante rentável. Calvino ingressou na Universidade de Paris com o objetivo de estudar teologia, isto aos 14 anos de idade, para ter a preparação formal, e então, torna-se um sacerdote católico romano; aos 17 anos Calvino graduou-se em mestre em ciências humanas (Ibid, p.19).

            O pai de Calvino, após, um desentendimento com as autoridades eclesiásticas de Noyon decide colocar o filho para estudar Direito na universidade de Orleáns (1528), Calvino como um filho obediente, assim o fez. Porém, o Pai de Calvino morre em 1531; então, o futuro reformador mudou a direção de seus estudos para a literatura clássica que era a sua paixão. Seu primeiro comentário foi sobre uma obra clássica “De Clementia” do filósofo romano Seneca. Este comentário de Calvino foi a sua tese de doutorado do futuro teólogo reformador de Genebra. (LAWSON, 2007, p.20)

II – O CONTEXTO DAS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ

            A conversão de Calvino à fé evangélica foi uma súbita conversão a Cristo, “onde as amarras do papado”, conforme ele descreve em seu prefácio ao comentário do livro de Salmos, esta conversão ele a descreve de um modo quase que poético:

Minha mente, que, a despeito de minha juventude estivera por demais empedernida em tais assuntos, agora estava preparado para uma atenção séria por uma súbita conversão, Deus transformou-a e a trouxe-a à docilidade (GEORGE, 1994, p.31)[1]

            A Conversão de Calvino deu um novo ar as perspectivas do avanço da Reforma tanto em Genebra como na França.

a)     O Nascimento das Institutas:

A primeira edição das Institutas foi em 1536.  Desde o princípio deve-se ressaltar que o surgimento desta obra se deu pelo incentivo de um amigo de Calvino chamado Louis du Tillet, Calvino ficou certa vez hospedado em sua casa onde produziu “grande parte de seu livro as institutas”, porém, este amigo de Calvino posteriormente se voltou para o romanismo.[2]

 O próprio Calvino escreveu como uma cartilha para instruir os cristãos novos na fé. Ela (as institutas) alguns anos após o fracasso literário de Calvino com a obra “De Clementia” este datado de 1532. A obra de Calvino o “De Clementia” foi uma espécie de desapontamento para seu autor, e, até mesmo em sacrifícios financeiros não compensados, um evidente fracasso, por tanto. (FERREIRA, 1985, p.142) O livro não se vendia. “Quase ninguém tomou conhecimento de sua publicação.” (HALSEMA, 2009, p.28).

Alguém já disse que o caminho da providência gerou o “insucesso do ‘De Clementia’ para aniquilar o humanista que começara a repontar em Calvino e dele fazer um teólogo consumado que havia de ser, nas Institutas” (FERREIRA, 1985, p.142). E, assim, temos o nascimento das Institutas como uma cartilha para orientar aos cristãos protestantes na vida de piedade.

b. O Título da Obra:

Nos compete também considerar o título da Opus Magnum  de Calvino conforme considerada neste artigo. O título que o Reformador deu a sua obra magna foi: O Ensino Básico da Religião Cristã, compreendendo quase a soma total da piedade do que é necessário conhecer sobre a Doutrina da Salvação. Um Trabalho recém-publicado que muito merece ser lido por todos os que estudam a Piedade. Um Prefácio ao mais cristão Rei da França, oferecendo a ele este livro como uma Confissão de Fé do autor, Jean Calvin de Noyon(GEORGE, 1994, p.177)[3] O que se destaca no título no título da obra são quatro princípios básicos:

1.     As Institutas seria um manual básico da fé protestante;

2.     As Institutas visavam fomentar a piedade cristã nos caminhos da salvação;

3.     As Institutas tem um caráter apologético;

4.     As Institutas chegam com força de uma confissão de fé.

Estes princípios são tão notórios que que o próprio Calvino resumiu a obra, em sua primeira edição, dando-lhe o título de Breve Instrução, que serviu como uma confissão de fé da Igreja de Genebra.

III – A ESTRUTURA TEOLÓGICA DAS INSTITUTAS.

            Consideremos agora a estrutura teológica das Institutas da Religião Cristã. A primeira edição das Institutas consistia de uns poucos seis capítulos, que podem ser estruturados do modo com segue:

1.     A Lei de Deus – Uma Breve Exposição dos Dez Mandamentos;

2.     A Fé – Uma sucinta Exposição do Credo Apostólico;

3.     A Oração – Apresenta-se uma exegese da oração dominical (O Pai Nosso);

4.     Os Sacramentos - Calvino discute a doutrina do Batismo e da Eucaristia (Santa Ceia)

5.     Os Cinco Sacramentos adicionais -  Calvino de forma apologética refuta os cinco sacramentos adicionais dos romanistas;

6.     A Liberdade Cristã e a Igreja – Aqui o Reformador Francês  toca em três delicados temas para a época:

a.      A Liberdade Cristã e de consciência;

b.     A política Eclesiástica;

c.      O Magistrado Civil.

Com os passar dos anos a mente de Calvino e a sua pena foram maturando suas ideias e as Institutas foi ganhando corpo, chegando a uma edição final em 1559. Composta com quatro volumes com um esquema teológico mais abrangente e completo para a instrução na fé reformada. Seu esquema de organização ficou como segue:

VOLUME I – O CONHECIMENTO DE DEUS, O CRIADOR:

1.     O conhecimento duplo de Deus;

2.     As Escrituras;

3.     A Trindade;

4.     A Criação;

5.     A Providência.

VOLUME II – O CONHECIMENTO DE DEUS, O REDENTOR:

1.     A queda, Pecaminosidade do homem;

2.     A Lei;

3.     Antigo e o Novo Testamentos (sua relação);

4.     Cristo, o Mediador: Sua Pessoa (Profeta, Sacerdote, Rei) e a obra da expiação;

VOLUME III – O MODO PELO QUAL RECEBEMOS A GRAÇA DE CRISTO, SEUS BENÉFICIOS E EFEITOS:

1.     Fé e Regeneração;

2.     Arrependimento;

3.     Vida Cristã;

4.     Justificação;

5.     Predestinação;

6.     A última ressurreição (final)

VOLUME IV – OS MEIOS EXTERNOS PELOS QUAIS DEUS CONVIDA-NOS À SOCIEDADE DE CRISTO.

1.     A Igreja.

2.     Os Sacramentos

3.     O Governo Civil.

CONCLUSÃO:

            Este artigo visou apresentar em linhas gerais o contexto das Institutas da Religião Cristã de João Calvino. Mostrando o quatro geral de como esta obra foi desenvolvendo-se até chegar a sua forma atual nos dias hoje.

BIBLIOGRAFIA:

1.     BEEKE, Joel. R.; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2016.

2.     BEZA, Theodoro de. A Vida e a Morte de João Calvino. Tradução: Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Editora Luz para o Caminho, 2006.

3.     CALVINO, João. Comentário sobre o Livro de Salmos, Volume 1. Tradução: Valter Graciano Martins, São Paulo: Editora Fiel, 2009.

4.     COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras – Uma Perspectiva Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.

5.     FERREIRA, Wilson de Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia, São Paulo: Luz Para o Caminho,1998.

6.     CALVINO, Juan. Instiución de La Religión Cristiana. Tradução: Cipriano de Valera.  Barcelona:1999

7.     GEROGE, Timothy. Teologia dos Reformadores.Tradução: Gérson Dudus e Valéria Fontana. São Paulo: Editora Vida Nova, 1994

8.     HALSEMA, Thea B.  Von. João Calvino Era Assim.   São Paulo: Editora Os Puritanos, 2009

9.     LAWSON, Steven. A Arte Expositiva de João Calvino. Tradução:Ana Paula Eusébio Pereira. São Paulo: Editora Fiel,2008.

 

 

 



[1] Veja-se CALVINO, João. Comentário aos Salmos, São José Campos – SP: Volume 1,2009, p.31.

[2] Veja-se TOKASHIKI, Ewerton B. Pastoreando o Rebanho de Deus – Os documentos de Ordem da Igreja de Genebra. Teófilo Otoni – MG: Credo Reformado Publicações, 2022, p.31 – nota de número 15.

[3] Ênfase nossa.

Um comentário:

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