A RESTAURAÇÃO DE
ISRAEL.
Por: Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Anteriormente,
os objetos de culto eram variados e incontáveis; cada lugar tinha seu próprio
ídolo e o chamado deus de um lugar não podia passar para outro para persuadir
as pessoas ali para que o adorassem, mas apenas era ainda reverenciado por seus
próprios seguidores. Certamente que não. Ninguém adorava o ídolo do seu
vizinho, mas cada um tinha seu próprio ídolo e pensava que este era senhor de
todos. Porém agora só Cristo é adorado, como Um e Mesmo entre todos os povos de
todas as partes; e o que a debilidade dos ídolos não pode fazer, a saber,
convencer aos que vivem próximos, Ele o tem feito. Tem persuadido, não somente
aos que viviam próximos, mas literalmente o mundo inteiro, para adorar a Um e o
Mesmo Senhor e ao Pai por meio dele.
Atanásio,
On the Incarnation [46]
O antigo Israel foi excomungado,
cortado do pacto pelo justo juízo de Deus. Superficialmente, isto representa um
sério problema. Que tem ocorrido com as promessas de Deus a Abraão, Isaque e
Jacó? Deus havia jurado que seria o Deus da semente de Abraão, que o pacto
seria estabelecido com a semente de Abraão, que o pacto seria estabelecido com
a semente de Abraão “no decurso das suas gerações, aliança perpétua,” (Gênesis 17.7 ARA).
Se a salvação tem passado dos judeus para os gentios, o que isso diz sobre a
fidelidade de Deus a sua palavra? Há um lugar para o Israel étnico na profecia?
As maiorias destas perguntas estão
respondidas na Escritura por meio do Apóstolo Paulo em Romanos 11.
A Rejeição de
Israel não é total.
Deus jamais rejeitou
por completo ao Israel Étnico, assinala Paulo. Depois de tudo, Paulo mesmo era
“Israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim” (vs.1). E o de Paulo
não é um caso isolado. Na realidade, como ele o demonstra, é consistente com a
história de Israel o fato de que só uns poucos deles eram verdadeiros crentes
na fé bíblica. Como exemplo, cita a história de Elias (1º Reis 19), que se
queixou diante de Deus de que Ele era o único israelita fiel que restava. Deus
reprendeu a Elias com a afirmação de que Ele se havia reservado para si sete
mil fiéis de Israel, homens que não haviam dobrando seus joelhos diante de
Baal. De forma similar, disse Paulo, “assim também ainda neste tempo resta um
remanescente eleito por graça” (vs.5). Em sua graça soberana, Deus tem
escolhido salvar alguns de Israel, ainda que haja condenado a Israel em geral,
de modo que “Israel não tem alcançado o que buscava; porém os eleitos sim tem
alcançado, e os demais foram endurecidos” em sua incredulidade, como o ímpio
faraó do Egito (v.7; ver 9.14-18). Para a maioria do Israel étnico, “Deus lhes
deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir,
até ao dia de hoje.” (Romanos 11:8;
ver Atos 28.25-28 ARA). Sobre os excomungados do pacto viriam às maldições do
Antigo Testamento: “E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha, em
tropeço e punição; escureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam, e fiquem
para sempre encurvadas as suas costas.” (Romanos 11.9-10 ARA).
Contudo, Deus, todavia, tinha seus próprios eleitos no Israel étnico. Como
Paulo, seriam salvos. A rejeição de Israel por Deus não foi total.
A Rejeição de
Israel não é Final.
Não só é verdade que sempre haverá
uma minoria fiel em Israel, mas que a
Palavra de Deus também ensina, que algum dia, uma maioria dentre o Israel étnico será salva.[1]O
Povo de Israel, em geral, voltará à fé de seus pais e reconhecerá a Jesus
Cristo como Senhor e Salvador. Sua queda na apostasia não é permanente, disse
Paulo. Porque assim como sua exclusão resultou na salvação dos gentios, algum
dia a salvação dos gentios resultará na restauração de Israel:
Pergunto,
pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua
transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Ora, se a
transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em
riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude! Dirijo-me a vós outros,
que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu
ministério, para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo
e salvar alguns deles. Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe
reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os
mortos?
(Romanos 11.11-15 ARA)
A ordem dos eventos, pois, parece
ser como segue abaixo:
1.
A apostasia dos judeus resultou na salvação dos gentios;
2.
Algum dia, a salvação dos gentios resultará na restauração do Israel étnico; e
finalmente,
3.
A restauração de Israel causará um reavivamento ainda maior entre os gentios,
que (na comparação com todo o corrido anteriormente) será muita maior “riqueza”
(vs.12), como “vida dentre os mortos”. (vs.15).
A Oliveira
Desde o princípio, Deus teve sempre
um único povo do pacto. A igreja do Novo Testamento é simplesmente a
continuação do verdadeiro “Israel de Deus” (Gálatas 6.16), depois de que o
falso Israel havia sido cortado. Paulo mostra como isso ocorreu, usando uma
ilustração: Os crentes gentios foram “enxertados” no tronco do povo de Deus,
enquanto os ramos israelitas estavam sendo cortadas.
Se,
porém, alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste
enxertado em meio deles e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira,
não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe que não és tu que
sustentas a raiz, mas a raiz, a ti. Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados,
para que eu fosse enxertado. Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu,
porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se
Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará. Considerai, pois, a
bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para
contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás
cortado.
(Romanos 11.17-22 ARA)
Os que são infiéis e desobedientes
ao pacto são cortados, sem importar qual tenha sido a sua posição anterior ou
qual seja a sua herança genética, enquanto que os que creem são enxertados.
Isto contém uma importante advertência para tosos os que professam a religião
cristã, para que continuem na fé. Os judeus que abandonaram ao seu Senhor não
puderam reclamar as bênçãos e o favor de Deus; e, como indica Paulo, ao mesmo
ocorre com os cristãos gentios. Deus
requer obediência e perseverança – como disse Calvino, uma vida de contínuo
arrependimento.
Tende
cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de
incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos
mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de
vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado
participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança
que, desde o princípio, tivemos.
(Hebreus 3.12-14 ARA) [132]
Porém a rejeição de Israel não é o
capítulo final da história. Ainda que o corpo de Israel foi excomungado por sua
incredulidade, a restauração ao pacto ocorrerá por meio do arrependimento e a
fé:
Eles
também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é
poderoso para os enxertar de novo. Pois, se foste cortado da que, por natureza,
era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais
não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais!
(Romanos 11.23-24 ARA)
Note cuidadosamente que o texto não
só diz que Deus pode restaurar ao
Israel “natural”, mas que Ele o fará. Este ponto está reforçado nos seguintes
versículos:
Porque
não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos
em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado
a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito:
Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha
aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados.
(Romanos 11.25-27 ARA)
Como vimos mais acima, Deus
endureceu ao povo de Israel na incredulidade (Romanos 11.7-10). Mas este
endurecimento era somente temporal, porque Israel como um todo se voltará para
o Senhor, como Paulo afirma em outra parte:
Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia
de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não
lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido
Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se
converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.
(2ª Coríntios 3.14-16 ARA)
O endurecimento e a rejeição
judicial de Israel não durarão para sempre. Algum dia, o véu será tirado, e o
povo em geral se converterá novamente à verdadeira fé.[2]Porém
Israel não voltará senão quando tenha
entrado a plenitude dos gentios – em outras palavras, quando os gentios em geral se tenham convertido a Cristo
(compare-se com o uso da palavra “plenitude” nos versículos 12 e 25 de Romanos
11). E por isso, depois da conversão dos gentios em massa, todo Israel será salvo, em cumprimento das promessas de Deus a seu
antigo povo. Ainda que Israel tenha sido infiel, Deus permanece fiel a seu
pacto. Agora Israel é inimigo do evangelho, porém Deus todavia lhe ama por amor
a seus antepassados. Os privilégios que Deus tem concedido aos israelitas não
foram retirados para sempre, e a causa das promessas de Deus, o chamado de
Israel no pacto é finalmente irrevogável (Romanos 11.28-29). Paulo repete a
lição básica:
Porque assim como vós também, outrora, fostes
desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da
desobediência deles, assim também estes, agora, foram desobedientes, para que,
igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida.
Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia
para com todos.
(Romanos 11.30-32 ARA)
Resumo:
1.
Todo mundo gentil se converterá à fé de
Jesus Cristo. A grande massa dos gentios entrará no pacto, até que a
conversão dos gentios alcance o ponto de “plenitude” (uma palavra que significa
totalidade, o que é completo, Romanos 11.25).
2.
O Israel genérico ou judeu se converterá
para a fé em Jesus Cristo. Ainda que sempre haverá alguns hebreus que se
façam cristãos, o povo judeu como um todo só se converterá depois da conversão
dos gentios (Romanos 11.11-12,15,23-27). Isto significa que a chave para a
conversão de Israel é a execução prioritária
da grande comissão (Mateus 28.19-20), a salvação da nação.
3. Nem todos os gentios ou judeus individuais
se converterão.
A
conversão tanto de Israel como dos gentios será análoga à rejeição de Israel.
Ainda que Israel como um todo foi
cortado do pacto, alguns judeus tem continuado na fé verdadeira (Romanos
11.1-7). Ainda assim, quando os gentios e Israel se tenham convertido como um todo, isto não significa requere
que cada um e até o último dos indivíduos em qualquer dos grupos se converta ao
cristianismo. Sempre haverá exceções. Porém, assim como a maioria opressiva dos
judeus rejeitaram a Cristo quando veio, assim também a maioria opressiva tanto
dos judeus como de gentios será enxertada no tronco do fiel povo de Deus.
4. A conversão tanto de judeus como de gentios
terá lugar pelos meios normais de evangelismo nesta era.
Nada se diz aqui de nenhum evento
cataclísmico – como a Segunda Vinda – que resultará em conversões em massa. A
conversão do mundo em grande escala ocorrerá a medida que o evangelho é pregado
às nações; na realidade, esta mesma passagem nega categoricamente qualquer
outro meio de conversão (Romanos 10.14-17). A inserção da Segunda Vinda nesta
passagem por parte de alguns escritores é completamente especulativa e conduz a
confissão. O contexto inteiro exige que a conversão do mundo aconteça como
continuação normal de processos já em funcionamento, como o indica claramente
uma simples leitura de Romanos 11.11-32. Como disse claramente Charles Spurgeon:
Eu mesmo creio que o rei Jesus reinará e que os ídolos
serão completamente abolidos; mas espero
que o mesmo poder que uma vez colocou o mundo em ordem continue, fazendo-o. O
Espírito Santo jamais permitirá que a imputação de que não se pode converter o
mundo descanse sobre seu santo nome.
5.
O motivo da conversão de Israel será o
ciúme.
Os judeus olharão todas as nações
gentílicas ao seu redor desfrutando as bênçãos do pacto prometidas ao Antigo
povo de Deus; verão que a misericórdia de Deus se tem estendido ao mundo inteiro;
e se porá ciúmes (Romanos 11.11,31; veja Romanos 10.19). Novamente, isto não
será o resultado de algum evento cataclísmico (como o arrebatamento), por que é
a continuação de um processo já em
funcionamento nos dias de Paulo (Romanos 11.14). Os judeus (como o próprio
Paulo) já se estavam convertendo por meio destes ciúmes santos, e Paulo
esperava restaura a outros pelo mesmo método. Porém aponta para um dia no
futuro quando isto ocorrerá em grande escala, e os judeus regressarão à fé como
povo.
6.
Em todos os tempos, os judeus convertidos
pertencem à igreja; não é um grupo separado. Apropriadamente, não existe
tal coisa como um “cristão hebreu”,
assim como não há categorias bíblicas separadas de “cristãos índios”, “Cristãos
Irlandeses”, “Cristão chineses”, “nem cristãos norte-americanos”. O único modo
em que os gentios podem ser salvos é sendo inxertados na “oliveira”, o fiel
povo do pacto (Romanos 11. 17-22). E o único modo pelo qual um Judeu é salvo é
convertendo-se em membro do povo de Deus
(Romanos 11.23-24). Não existe
nenhuma diferença. Por meio de sua obra consumada, Cristo “fez de ambos os
grupos um só” (Efésios 2.14). Crer que os judeus e gentios tem sido unidos “em
um corpo”, a igreja (Efésios 2.16). Há só uma salvação e uma igreja, na qual todos os crentes sem
distinção de herança étnica tornam-se filhos de Deus e herdeiros das promessas
feitas a Abraão (Gálatas 3.26-29). A criação de uma distinção especial
judeu-gentio dentro do corpo de Cristo é afinal de contas uma negociação do
evangelho.
7. Israel não será restaurado como
reino (Mateus 21.43; 1ª Pedro 2.9). A Bíblia promete a
restauração de Israel como povo,
porém não necessariamente como estado;
nada requer que os dois venham juntos. Contudo, ainda supondo que, todavia,
haja um estado de Israel quando os
judeus se converterem, Israel seria simplesmente uma nação cristã entre muitas,
sem nenhuma importância especial. O povo de Israel genético será parte da
arvora da vida do pacto, porém já não há nenhuma importância religiosa que
pertença à Palestina. O mundo inteiro se coverterá no reino de Deus, no qual
todas as nações terão igual valor dentro desse reino.
“Naquele
dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio
da terra; porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o
Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança.” (Isaías
19.24-25 ARA)
8. A Conversão de Israel resultará
em uma era de grandes bênçãos para o mundo inteiro. Haverá
cumprimentos ainda maiores das promessas do pacto, uma superabundância de
riquezas espirituais, tanto assim que, em comparação com o estado anterior do
mundo, será como vida para os mortos (Romanos 11.12,15). Aqui é quando as promessas bíblicas das
bênçãos terrenas do reino alcançará seu cumprimento maior e mais completo. O
monte Santo de Deus haverá abarcado ao mundo, e “a terra se encherá do conhecimento
do SENHOR, como as águas cobrem o mar”. (Isaías 11.9 ARA).
[1] NT – a
perspectiva de Chilton é Pós-milenista contrária a posição deste tradutor. As
reflexões teológicas sobre este ponto são gritantes: 1. Cristo veio apenas para
judeus nos seu primeiro advento; ( 2) A morte de Cristo foi um acidente
temporal e não predeterminado? ; (3) E
por último, nós os gentios fomos eleitos no tempo por um circunstância
temporal? Essas indagações [ e
conclusões teológicas e exegéticas] me
levam a não aceitar esta proposição do David Chilton.
[2] Nota do Tradutor: A passagem
anteriormente citada elimina esta perspectiva escatológica do David Chilton –
pois a passagem claramente indica que os judeus eleitos [que são alvos da graça
de Deus em Cristo] é que voltará para a verdadeira fé.
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