CRISTO O SIGNIFICADO DA HISTÓRIA
Por: Rev. Hendrikus Berkhof
Tradução: Rev.
João Ricardo Ferreira de França.
INTRODUÇÃO
“Quando já não podemos encontrar significado na
história significa que não entendemos a nós mesmos”
G. Van der Leeuw, De Zin der Geschiedenis, Groningen, 1935,
p.5.
Constantemente alguns nos asseguram que
vivemos em era apocalíptica. A pergunta é se aqueles que dizem isto sabem o que
querem dizer. Se é algo mais que a afirmação de que esta era Põe diante de nós
surpresa e temores que nunca se havia visto antes, então, isto deve significar
que vivemos em uma época que revela mais que qualquer outra época anterior (apocalipse
significar ‘manifestar, deixar descoberto’); um tempo em que as grandes forças
que movem a história humana são reveladas estando assim despojadas de seu
mistério; um tempo que não tem fim. De modo que, com esta segurança, estamos
tratando com um dos muitos sopros de vida, expressados de uma forma tão livre,
que comprovam quanto de nosso mundo Ocidental ainda vive a partir de sua
herança cristã, e quanto nos orientamos inconscientemente por ela quando
buscamos uma via de escape que nos livre dos eventos que nos oprimem.
Provavelmente esta ultima frase seja todavia, demasiadamente afável para expressar
o verdadeiro problema. Nossa geração se
encontra estrangulada pelo temor: temor ao homem, o seu futuro, à direção na
que estamos sendo empurrados contra a nossa vontade e desejo. E disto surge um
clamor pedindo iluminação com respeito ao significado da existência da humanidade,
e com respeito ao objetivo a que estamos sendo conduzidos. É um clamor por uma
resposta para a antiga pergunta do significado da história.
A Igreja de Cristo não só está ciente de tal
clamor, mas ela também sabe uma resposta divina. Deve colocar-se ao lado do
mundo e deve atrever-se a apontar a direção da resposta. A questão, no entanto,
é se será capaz de fazer isto. Certamente se encontra de pé ao lado do mundo,
ou inclusive completamente nele, pois, ela também está presa pelo medo. Porém
só pode ser ajudada sólida e real quando é capaz de apresentar uma resposta
ainda em meio de seus piores temores e os de outros. Pode fazer realmente isto
por seu livro, a Bíblia, está cheia de luz, precisamente para estes abismos da
história. Ali se encontram compilados os matérias de construção do que podemos
chamar de uma teologia da história.
Porém,
muitos séculos a Igreja e seus teólogos apenas não têm notado estes materiais.
Tem-se dito poucas palavras acerca dos assim chamados ‘sinais do fim’ em uma
passagem quase escondida na dogmática, em alguma parte muito próxima do final.
Geralmente a passagem tem sido muito sombria e tem tratado em sua totalidade, ou quase
totalmente, com o crescente mal do homem e a chegada do anticristo. Algumas
observações nessa seção somente assinalam a possibilidade de que, o que foi
dito em toda a teologia, poderia tocar o coração da história do mundo,
incluindo a história do presente. Porém, o caráter quase oculto da passagem, o
breve tratamento que se lhe dava, e a localização dos fatos em um futuro
incerto, tem resultado em uma situação na que estes “sinais do fim” tem
permanecido como pedras perdidas em um campo dogmático, e os materiais da
construção necessários para uma teologia da historia ficaram sem ser reunidos.
No
entanto, isso não inclui todos aqueles que se chamam a si mesmo de cristão. Ao
longo de toda a história da igreja a busca de uma teologia da história tem sido
um tema importante para algumas seitas e para alguns movimentos similares as
seitas. Encontra-se aqui uma resposta detalhada e clara que satisfez não apenas
fé, mas também a curiosidade e o intelectualismo primitivo. Isto aconteceu
enquanto a igreja oficial não tinha nenhuma resposta em absoluto.
Por
esta razão, a relação entre as igrejas e as seitas também tem sido infrutífera.
As seitas tem racionado contra a atitude fria da Igreja e as questões
associadas com o futuro e a história, e as igrejas tem reacionado contra as
fantasias, e as vezes, contra os arrebatamentos revolucionários que se tem
posto em evidência entre as várias seitas. Cada resposta tem exigido uma nova
resposta e as questões para uma teologia da história têm sido abordadas, quer
sem qualquer aproximação, ou de uma
forma fantástica e superficial. Parece que não tem havido uma terceira
possibilidade.
Pode-se
dizer, uma vez que existem apenas duas alternativas é melhor para escolher o
primeiro. Porém, o não dar atenção é tão desastroso como oferecer uma atenção
errada. Muitos cristãos, que, apesar dos enigmas e tristezas de sua vida
pessoal não perderam por um momento a segurança do amor e orientação de Deus, se
sentem tão impotentes e incapazes como crianças perdidas que sofrem a ausência
do Pai, quando lêem manchetes nos jornais e periódicos. A Igreja de Cristo do
século vinte [ vinte e um – NT] é espiritualmente incapaz de resistir contra
todas as rápidas mudanças que sucedem ao seu redor porque não tem aprendido a
ver a história desde a perspectiva do reinado de Cristo. Por esta razão, pensa
em termos totalmente seculares com respeito aos eventos do seu próprio tempo.
se vê invadida pelo temor de uma forma mundana trata de libertar-se do temor.
Neste processo Deus como algo parecido a um benfeitor improvisado que salva a
brecha tem oralmente.
Afortunadamente,
há sinais de mudança. Há somente pequenas nuvens, do tamanho de uma mão, porém
são visíveis. A experiência da Segunda Guerra Mundial tem ajudado a dar um
impulso nesta direção. O documento do Sínodo Reformado, Fundamenten em Perspectieven van Belijden( Fundamentos e
perspectivas da fé), tem ido mais além das confissões do século XVI ao incluir
um artigo acerca da história (art.14). E o Concílio Mundial de Igrejas teve
como seu tema para a conferência de Evaston em 1954. ‘ Cristo – a esperança
para o mundo.’ O bem conhecido relatório com respeito a este tema que foi
aceito pela assembleia contém um parágrafo intitulado ‘A Esperança Cristã e o
Significado da História’. Estas coisas são sintomas em sim mesmo e também
motivos de contentamento, ainda assim o conteúdo em si não é tão satisfatório
neste ponto, particularmente no caso do segundo documento. Porém tão somente
temos começado. Será necessário que haja muita reflexão sobre este assunto. Só
então, a nossa conversa sobre o reinado de Cristo na história, lentamente,
começará a ter significado, porque se aproximará ainda mais para a plenitude e certezas das quais se fala no Novo Testamento.
É
meu desejo e esperança poder ajudar neste processo com este livro. Não espero
nada menos, e minha expectativa não excede isso, como tive a forte impressão de
que nós temos aqui um campo teológico não cultivado. No entanto, este é o
legado da história. Posto que a dogmática se manteve sistematicamente separada
dos problemas apresentados pelos livros apocalípticos da Bíblia, me vi obrigado
a encontra meu próprio caminho sem a ajuda desta tradição. Por esta razão,
entre outras, permaneci tão próximo como me foi possível da teologia bíblica. Isso
não elimina o fato de que não se podem fazer pronunciamentos neste campo, se você
não está também preparado para se aproximar de uma filosofia cristã da
história. Quem teme o último não
pode fazer justiça aos pronunciamentos bíblicos. Mas por isso mesmo tornou-se
um maravilhoso livro em que a exegese, teologia bíblica dogma, e a filosofia
mudam de lugares, e às vezes são interligadas. Para alguém como eu, que não sou
um especialista em nenhum destes campos, esta tem sido uma empreitada muito
perigosa. Felizmente, alguns estudiosos têm se mostrado dispostos a ler alguns
capítulos e apontar algumas correções. Para eles eu quero expressar minha sincera gratidão.
A
Teologia é uma forma de amar a Deus com a mente. Por esta razão não é uma
doutrina secreta, mas um assunto público. De modo que tenho considerado como
uma tarefa satisfatória e auto-imposta ao escrever de tal maneira que aqueles
que não sejam teólogos com uma orientação intelectual geral possam ler este
livro. Confio em que muitos deles queiram fazê-lo, pois é importante que o tema
discutido neste livro comece a tomar a vida de toda a Igreja de Cristo, como um
pão sumamente necessário. Pode ser que inclusive aqueles que se encontram entre
as seitas possam desejar se familiarizar-se um pouco com este livro. E o
acharão inadequado, e não estarão de acordo com muito do que há nele, porém
talvez a este como sendo o trabalho de alguém que tenha prestado atenção para
as chamadas feitas para a porta da igreja. E possa ser que haja uma ligeira
possibilidade de que lhes possa conduzir a perguntar-se de onde se acham os
elementos reativos ao seu próprio ensino. Pelo menos, confio que este livro
possa ser uma pequena fonte através do qual a igreja e as seitas possam
encontrar caminho para um novo diálogo.
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