sexta-feira, 14 de março de 2014

O SURGIMENTO DO ANTICRISTO.

O SURGIMENTO DO ANTICRISTO.
Por:  Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França 

            De acordo com as palavras de Jesus em Mateus 24, uma das crescentes características da época que procederia ao colapso de Israel seria a apostasia dentro da igreja cristã. Isto já foi mencionado antes, porém um estudo mais concentrado neste ponto lançará muita luz sobre um bom numero de pontos da discussão relacionados no Novo Testamento – pontos que geralmente tem sido mal compreendido.
            De modo geral, pensamos no período apostólico como uma época de evangelismo tremendamente explosivo e crescimento da i©greja, uma “idade de ouro”, quando assombrosos milagres ocorriam todos os dias. Esta imagem comum é substancialmente correta, porém sofre de uma flagrante omissão. Tendemos a descuidar do fato de que a igreja primitiva era o cenário do mais dramático broto da heresia da história mundial.
A grande apostasia.
            A igreja começou a ser infiltrada pela heresia no inicio de seu desenvolvimento. Atos 15 registra a reunião do primeiro concílio da igreja, que foi convocado para pronunciar decisão autorizada sobre o ponto em discussão da justificação pela fé (alguns mestres estavam advogando pela falsa doutrina de que se haveria de guardar as leis cerimoniais do Antigo Testamento para ser justificado). Contudo, o problema não morreu; anos mais tarde, Paulo teve que lidar com ele novamente, em uma carta às igrejas da Galácia. Como Paulo lhes disse, esta aberração doutrinária não era coisa de pouca importância, mas que afetava a própria salvação: era um “evangelho diferente”. Uma completa distorção da verdade, e equivalia a repudiar ao próprio Jesus Cristo. Usando alguns dos mais severos termos de sua carreira, Paulo pronunciou uma condenação sobre os “falsos irmãos” que ensinavam esta heresia (veja-se: Gálatas 1.6-9;2.5,11-21; 3.1-3; 5.1-12).
            Paulo também previu que as heresias infectariam as igrejas da Ásia Menor. Convocando aos presbíteros de Éfeso, lhe exortou a “olhar por eles mesmos e por todo rebanho” por que “eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E de vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas para arrastar após si os discípulos” (Atos 20.28-30). Tal como o havia predito Paulo, as falsas doutrinas se converteram em pontos de disputa de enormes proporções nestas igrejas. Até que o livro de Apocalipse fosse escrito, algumas destas igrejas haviam sido arruinadas quase completamente pelo avanço das doutrinas heréticas e a apostasia resultante disto (Apocalipse 2.2,6,14-16,20-24; 3.1-4,15-18).
            Porém o problema das heresias não limitava a nenhuma área geográfica nem cultural. Estava muito espalhado, e se tornara mais e mais o tema do conselho apostólico e da supervisão pastoral à medida que o tempo se passava. Alguns hereges ensinavam que a ressurreição final já havia ocorrido (2ª Timóteo 2.18), enquanto que outros afirmavam que a ressurreição era impossível (1ª Coríntios 15.12); alguns ensinavam doutrinas estranhas de asceticismo e culto aos anjos (Colossenses 2.8,18-23; 1ª Timóteo 4.1-3), enquanto que outros advogavam toda classe de imoralidades e rebeliões em nome da “liberdade” (2ª Pedro 2.1-3,10-22; Judas 4,8,10-13,16). Repetidas vezes, os apóstolos se encontraram pronunciando severas admoestações contra a tolerância de falsos mestres e “falsos apóstolos” (Romanos 16.17-18; 2ª Coríntios 11.3-4, 12-15; Filipenses 3.18-19; 1ª Timóteo 1.3-7; 2ª Timóteo 4.2-5), porque estes haviam sido a causa de deserções volumosas  da fé, e a extensão da apostasia estava aumentando a medida que o tempo passava (1ª Timóteo 1.19-20; 6.20-21; 2ª Timóteo 2.16-18; 3.1-9,13; 4.10,14-16) uma das últimas cartas do Novo Testamento, o livro de Hebreus, foi dirigido a uma comunidade cristã inteira quando estava a ponto de ocorrer uma deserção em massa de cristãos. A igreja cristã da primeira geração não só foi caracterizada pela fé e pelos milagres; também se caracterizou pela crescente impiedade, rebelião, e heresia dentro da própria comunidade cristã – tal como Jesus havia predito em Mateus 24.

O anticristo.
            Os cristãos tinha um termo especifico para esta apostasia. Chamavam-na de anticristo. Muitos escritores populares têm especulado sobre este termo, de modo geral estão deixando de considerar seu uso na Escritura. Em primeiro lugar, considere um fato que sem dúvida causará impacto em algumas pessoas: a palavra “anticristonunca ocorre no livro de Apocalipse. Nem uma vez sequer. Mas, o termo é usado rotineiramente pelos mestres cristãos como sinônimo da “besta” de Apocalipse 13. Obviamente, não há dúvidas de que a besta é um inimigo de Cristo, e que, por esta razão, é um “anti”Cristo nesse sentido; contudo,  o que quero dizer é que o termo anticristo usa-se em um sentido muito específico, e essencialmente não está relacionado com a figura conhecida como a “besta” e “666”.
            Um erro adicional ensina que “o anticristo” é um individuo específico; conectada com isto está à ideia de que “ele” é alguém que fará sua aparição no fim do mundo. O Novo Testamento contradiz ambas as ideias, da mesma forma que a primeira.
            Na realidade os únicos casos em que aparece o termo anticristo são os seguintes versículos nas cartas do apóstolo João:
Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar.
(1ª João  2.18-19, 22-23,  ARA)
Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.
 (1ª João 4.1-6 ARA)
Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo. Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.
 (2ª João 7-11 ARA)
            Os textos citados acima compreendem todas as passagens bíblicas que mencionam a palavra anticristo, e delas podemos extrair várias conclusões importantes:
            Primeira, os cristãos já haviam sido advertidos da vinda do anticristo (1ª João  2.18; 4.3).
            Segunda, não havia apenas um, mas “muitos anticristos” (1ª João 2.18), por conseguinte,  o termo anticristo não pode ser simplesmente a designação de um indivíduo.
            Terceira, o anticristo já estava em operação, como escreveu João: “muitos anticristos têm surgido” (1ª João 2.18 ARA) “Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar”. (1ª João 2.26 ARA); “este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.” (1ª João 4.3 ARA); “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, [...] assim é o enganador e o anticristo.” (2ª João 1.7 ARA). Obviamente, se o anticristo já estava presente no primeiro século, não era alguma figura que se levantaria no fim do mundo.
            Quarta, o anticristo era um sistema de incredulidade, particularmente a heresia de negar a pessoa e a obra de Cristo Jesus. Ainda que os anticristos aparentemente afirmavam pertencer ao Pai, ensinavam que Jesus não era o Cristo (João 2.22); junto com os falsos profetas (1ª João 4.1), negavam a encarnação (1ª João 4.3; 2ª João 7,9); e rejeitavam a doutrina apostólica (1ª João 4.6).
            Quinta, os anticristos haviam sido membros da igreja cristã, porém haviam apostatado (1ª João 2.19). Agora estes apóstatas tentavam enganar a outros cristãos, para distanciá-los da igreja completamente de Cristo Jesus (1ª João 2.26; 4.1; 2ª João 7,10).
            Juntando tudo isto, não podemos deixar de ver  que o anticristo é uma descrição tanto de um sistema de apostasia como dos apóstatas individuais. Em outras palavras, o anticristo era o cumprimento da profecia de Jesus de que viria um tempo de grande apostasia, quando “muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.” (Mateus 24.10-11 ARA). Como disse João, os cristãos haviam sido advertidos da chegada do anticristo; e efetivamente, haviam sido advertidos da chegada do anticristo; e efetivamente, haviam surgido “muitos anticristos”. Durante um tempo, haviam crido no evangelho; mais tarde, haviam abandonado a fé, e haviam ido por ali procurando enganar aos outros, e se foi iniciando novas seitas ou, mais provavelmente, tratando de trazer para os cristão pra o judaísmo – a falsa religião que afirmava adorar ao Pai enquanto negava ao Filho. Quando a doutrina do anticristo se entende, encaixa perfeitamente com o resto do que nos ensina o Novo Testamento sobre a época da “última geração”.
            Um dos anticristos que afligiu a igreja primitiva foi Cerinto, líder de uma seita judaica do primeiro século. Considerado pelos pais da igreja como “o arque herege”, e identificado como um dos “falsos apóstolos” que se opunha a Paulo, Cerinto foi um judeu que ingressou na igreja e começou a atrair os cristãos para fora da fé ortodoxa. Ensinava que uma deidade menor, não é o Deus verdadeiro, havia criado o mundo (sustentando, como os gnósticos, que Deus era super “espiritual” para ocupar-se da realidade material). Logicamente, isto significava também a negação da encarnação, posto que Deus não assumiria um corpo físico e uma personalidade verdadeiramente humana. E Cerinto era consistente: declarava que Jesus havia sido meramento um ser humano ordinário, não nascido de uma virgem; que “o cristo” (um espírito celestial) havia descido sobre o homem Jesus quando ele foi batizado (permitindo-lhe realizar milagres), mas que o havia abandonado na crucificação. Também, Cerinto defendia uma doutrina da justificação pelas obras – em particular, a absoluta necessidade de observar as ordenanças cerimoniais do Antigo Pacto – para ser salvo.
            Também, Cerinto foi aparentemente o primeiro a ensinar que a segunda vinda anunciaria um reino de Cristo literal em Jerusalém durante mil anos. Ainda que isto não fosse contrário ao ensino apostólico do reino, Cerinto afirmava que um anjo lhe havia revelado esta doutrina (de modo similar ao de Joseph Smith, um anticristo do século dezenove, que mais tarde afirmaria haver recebido uma revelação angélica)
            Os verdadeiros apóstolos se opuseram severamente à heresia de Cerinto. Paulo admoestou as igrejas: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema”. (Gálatas  1.8 ARA). Na mesma carta, Paulo passou a refutar as heresias legalistas sustentadas por Cerinto. Segundo a tradição, o apóstolo João escreveu seu evangelho e suas cartas tendo em mente a Cerinto. (Também se nos diz que, ao entrar João no banho público, viu este anticristo diante dele. O apóstolo deu meia volta imediatamente e saiu correndo, enquanto exclamava: “Fujamos, antes que o prédio caia sobre nós; porque Cerinto, o inimigo da verdade está dentro!”).
            Voltando para as afirmações de João sobre o espírito do anticristo devemos notar que João dá ênfase a outro ponto adicional, é muito significativo: como Jesus predisse em Mateus 24, a vinda do anticristo é um sinal do “fim”. “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora”. (1ª João 2.18 ARA). A conexão que a gente geralmente faz entre o anticristo e “os últimos dias” é bastante correta; porém o que geralmente se passa desapercebido é o fato da expressão “os últimos dias”, e termos similares, se usam na Bíblia para referir-se, não ao fim do mundo físico, mas aos últimos dias da nação de Israel, os “últimos dias” que terminaram na detruição do templo no ano 70 d.C. Isto também será uma surpresa para muitos; porém temos que aceitar o claro ensino da Escritura. Os autores do Novo Testamento usaram inquestionavelmente a linguagem dos “últimos tempos” quando falavam do período em que estavam vivendo, antes da queda de Jerusalém. Como temos visto, o apóstolo João disse duas coias sobre este ponto: A primeira delas, que o anticristo já havia chegado; e a segundo, que a presença do anticristo era prova de que ele e seus leitores estavam vivendo no “último tempo”. Em uma de suas cartas anteriores, Paulo havia tentado corrigir uma impressão errada concernente ao juízo vindouro sobre Israel. Os falsos mestres haviam instado contra os crentes e dizendo-lhes que o dia do juízo já estava sobre eles. Paulo lembrou aos cristãos o que já havia explicado antes: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição,” (2ª Tessalonicenses  2.3 ACF)
            Contudo, para o final da época, enquanto João escrevia suas cartas, a grande apostasia – o espírito do anticristo, que o Senhor havia predito – agora era uma realidade.
            Judas, que escreveu um dos últimos livros do Novo Testamento, não nos deixa dúvida alguma sobre este pondo de debate. Pronunciando fortes condenações sobre os hereges que haviam invadido à igreja e estavam tratando de desviar aos cristãos da fé ortodoxa (Judas 1-16), ele lembra a seus leitores que eles haviam sido advertidos disto mesmo:
Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.
(Judas 1.17-19 ARA)
            Claramente, Judas considera que as advertências sobre os “bajuladores” se referem aos hereges de sua própria época – querendo dizer que seu próprio dia era o período do “último tempo”. Como João, Judas sabia que a rápida multiplicação dos falsos irmãos era um sinal do fim. O anticristo já havia chegado, e agora era o último tempo.






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